Encontrei há dias uma entrevista incrivelmente inspirada. Tão inspirada que julgo ser difícil a quem a leia não se sentir a transbordar de energia e motivação. O entrevistado é o mais recente prémio Nobel da Paz, Professor Muhammad Yunus, fundador de um banco pioneiro no microcrédito nas pobres e distantes terras do Bangladesh http://nobelprize.org/nobel_prizes/peace/laureates/2006/yunus-telephone.html (pequena conversa telefónica depois de ter ganho o prémio) http://nobelprize.org/cgi-bin/asxgen.asx?id=83&type=interview&year=2006 (vídeo com entrevista). Passou há poucas semanas por Lisboa.
Para aqueles que não sabem, o microcrédito é um empréstimo bancário, geralmente de quantias pequenas, a pessoas que não teriam oportunidade de recorrer a ele através dos bancos comerciais, por implicarem quantias tão baixas que, para um banco normal, não são atraentes, e também pelo facto de os seus utilizadores pertencerem às classes mais desfavorecidas.
Os microcréditos são como sementes, criam pequenas oportunidades de investimento – uma máquina de custura, uma ferramenta para trabalhos agrículas, etc – que fazem a diferença no dia a dia de muitas pessoas, e dão frutos. A diferença está na nova perspectiva: criar oportunidades, não impingindo soluções ditadas por alguém que nunca saberá melhor que o próprio qual o caminho para o seu bem estar. “People can change their own lives, provided they have the right kind of institutional support. They’re not asking for charity, charity is no solution to poverty”.
Uma das muitas coisas que aprendemos em Moçambique é que toda a ajuda que não é investimento em capacidade produtiva, criando as tais oportunidades, não é mais que uma mera redistribuição, em que quem mais perde são, como de costume, os mais fracos. Há muitos estudos acerca dos efeitos perniciosos da presença das ONG’s em países subdesenvolvidos – aumento da generalidade dos preços – tornando a vida mais difícil a quem se tem por objectivo ajudar. A roupa usada que se envia com inconsciente generosidade, e quem diz roupa diz livros ou computadores, acaba por arruinar a produção local e eliminar os já diminutos postos de trabalho.
Por isso a ATACA não faz caridade voltada para a satisfação de necessidades imediatas. A ATACA não se pode dar a esse luxo – seria demasiado fácil e perigoso.
A ATACA faz uma proposta simples mas arrojada: juntar a vontade de quem quer ajudar à necessidade de quem precisa dessa ajuda. Não uma ajuda interesseira, mas antes interessada e preocupada em proporcionar caminhos de liberdade e dignidade. Ajudar as crianças a adquirir as suas proprias ferramentas, não esquecendo nunca a importancia de pequenos grandes pormenores como um pequeno almoço ou de um simples lápis. “People can change their own lives, provided they have the right kind of institutional support”.
Vamos continuar a ATACAr.

Filipe Magalhães

2 Responses to que tipo de ajuda?
  1. Muito bom!!!
    Parabéns.
    Vou aconselhar amigos a verem essa entrevista.
    Sérgio Pinheiro

  2. ATAquemos, pois, então!!!
    Parabéns, brilhante.
    F


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