O que escrever para o blog?! O que dizer no blog?! Qual a melhor maneira de transmitir o que aqui se passa?! Será que em palavras vou conseguir transmitir uma boa mensagem e descrever esta extraordinária oportunidade, que tantas pessoas gostavam de viver e provavelmente nunca a terão? Estas são algumas das perguntas que me coloco desde que este desafio de escrever no blog me foi proposto.
 A viagem foi algo surreal e quem sabe um sinal que esta experiência nunca mais será esquecida. Dia 16 de Julho partimos rumo a África, foram dois longos dias de viagem e onde tudo nos aconteceu. O avião teve uma avaria, longos períodos de espera, perdemos o voo de ligação, tivemos que dormir em Africa do Sul, e quando finalmente chegamos a Quelimane, as nossas malas ficaram perdidas algures entre as escalas.
Ainda me sinto uma “recém-chegada” a Quelimane e curiosamente, apesar de estar cá há pouco tempo, parece que cá vivo há bem mais tempo do que na realidade cá estou. 
A expectativa do que ia encontrar era muita. Os últimos tempos em Portugal desde que soube da minha “conquista”, – vinda para Moçambique – foram vividos entre um misto de ansiedade e medo do que poderia encontrar.
Hoje posso dizer que viver em Africa tem sido de longe a experiência mais fantástica e indescritível que alguma vez julguei ter oportunidade de viver. Como devem imaginar tenho imensas novidades para contar, tudo é novo, tudo é diferente, tudo impressiona, tudo provoca em mim um misto de sentimentos, e isto tudo junto, acaba por tornar esta tarefa um pouco difícil. Aqui todos os dias são vividos com algo novo, muito diferente do que estamos habituados, e do que até em então eu chamava de “normal”.
Passaram poucos dias desde a minha chegada e ainda me encontro em fase de adaptação, no entanto apesar de cá estar há pouco tempo já me apercebi que rapidamente tudo que numa fase inicial nos incomoda ou impressiona, é encarado posteriormente como normal. Cá é normal caminharmos nas ruas e de repente quase sermos atropeladas por uma ratazana. Cá é normal o lixo estar espalhado pelos passeios e estradas. Cá é normal as pessoas circularem nas ruas descalças. Cá é normal haver milhares de pessoas na rua a venderem todo o tipo de produtos. Cá é normal ser-se lento e ter de esperar. Cá é normal toda gente se cumprimentar, mesmo sem se conhecerem ou serem apresentadas. Cá é normal haver osgas em casa. Cá é normal haver muita pobreza. Cá é normal as crianças não estudarem. Cá é normal fazer-se apenas uma refeição por dia. Cá é normal o branco ter dinheiro. Cá é normal ser-se mãe aos 14anos. Cá é normal as crianças não terem pais…
Viver entre o “normal africano” e o “normal europeu”, tem sido uma luta diária pois nem sempre é fácil aceitar o normal “deles”. Gostaria no fim destes 6meses, dizer que consegui encontrar um equilíbrio entre os diferentes normais e sentir que de alguma forma contribui para tornar o meu normal, mais normal na sociedade africana.
Estamos Juntos…
Micaela Lopes
3 Responses to “Viver em Africa”
  1. Gostei deste depoimento. É o autêntico sentir de uma recém-chegada a uma realidade diferente, onde o deslumbramento perante o desconhecido luta com o constrangimento perante as desigualdades. Espero que consigas cumprir os teus objetivos, tal como todos os voluntários da Ataca, que muito admiro.

  2. Olá Micaela!

    Gostei muito do teu blogue! Força aí!

    beijinho (e um abraço) para todos,
    João

  3. Micaela!!! E todos os demais voluntários!!!

    Esta será mesmo uma experiência inesquecível e, com toda a certeza, que cada um de vocês irá deixar por aí a sua "impressão digital",…

    Vão acabar por sentir que gostariam de sentir para sempre algumas coisas do normal desse povo: as suas simplicidade, autenticidade e simpatia e que aos pouquinhos irão deixar por aí algo do vosso/nosso normal. O tal equilíbrio de que falas…

    Agora percebem quando falavamos da necessidade de nos reinventarmos em Moçambique e da importância de levarem na bagagem a vossa "personalidade única", não é assim?… E a aventura ainda está a começar 🙂

    Gostamos muito de vocês e sabemos que irão fazer por aí um belíssimo trabalho.

    Estamos por aqui para o que precisarem.

    Um abraço daqueles mesmo bons para todos os voluntários, para o Evaristo e o Melo, para todas as crianças da CE e para a Irmã Idalina das

    Sisters


[top]

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *