Já estamos há quase um mês em terras moçambicanas e o que sentimos é um misto de surpresa e de impotência. Quando nos falavam das condições de vida precárias e de vidas miseráveis não imaginávamos o que íamos encontrar! As pessoas vivem muito mal e a ajuda que prestamos ( ATACA) cá é, realmente fundamental! É necessária a criação de condições para que este povo possa viver, em vez de sobreviver, e para que possa aprender, em vez de passar mais um ano! O sistema de ensino está muito mal organizado, as escolas não tem condições, os professores não têm formação para dar aulas e os alunos vão fazendo aquilo que conseguem para tirar algum ensinamento da escola!
Começamos a nossa missão em Maputo onde fomos muito bem recebidas pelo amigo padre Jorge. Faz um bom trabalho no apoio aos jovens não só a nível pedagógico como também a nível afectivo! Ficamos bastante surpresas quando vimos a cidade de Maputo. Imaginávamo-la mais desenvolvida, menos violenta… a realidade que encontramos foi bem diferente! É uma cidade muito suja em que o problema com o álcool é uma constante… vêem-se muitas pessoas bêbedas na rua e a violência e o descontrole vêem por acréscimo! O trabalho realizado pela Ataca nesta cidade está a correr bastante bem e deu frutos! Existem algumas crianças que estão a ser apoiadas pelo projecto Ptad que tem corrido bastante bem e dois conterrâneos moçambicanos que se têm esforçado para dar continuidade ao projecto e para que tudo corra bem! Tivemos a oportunidade de ir visitar uma escola onde os companheiros da ataca pintaram um mural e o resultado foi fantástico. Conferiu à escola um carácter de alegria constante e, quando se entra, parece que se sente a vivacidade das crianças, mesmo não estando presentes! Parabéns companheiros! Uma novidade: nesta escola está a ser feita uma nova ala para o pré-escolar com muito boas condições! Adorávamos que estivessem a ver isto connosco!
Em Maputo tivemos uma vida muito relaxada: por entre passeios pela cidade com o padre Jorge, almoços e jantares em sua casa e trabalho com os companheiros conterrâneos o tempo passou muito rápido e deixou saudades!
Partimos para Quelimane 3 dias depois ansiosas por descobrir esta nova realidade: o projecto principal da Ataca na Casa Esperança! Quando chegamos, depois de uma viagem infernal, repleta de escalas, o choque foi bastante grande! O bairro onde vivemos é muito pobre e mesmo em frente á Casa Esperança existem casas onde as condições são desumanamente impensáveis!!!! A primeira noite passou devagar…a surpresa, a ânsia e a inquietude que sentimos ao chegar foi aflitiva. Estas crianças já estão a ser apoiadas mas as carências que têm, essencialmente a nível emocional, são bastante grandes. Fomos recebidas com muito carinho e alegria: cantaram e dançaram, escreveram mensagens por toda a casa para que nos sentíssemos bem…com tão pouco conseguiram transmitir muita alegria e integraram-nos na sua rotina com muita facilidade!
O trabalho que temos desenvolvido cá é fundamental! É necessário investir na educação e na promoção de boas condições de vida com urgência. Temos visitado famílias que estão a ser apoiadas e é impressionante ver a forma como sobrevivem…vivem em casas sem o mínimo de condições e amontoam-se muitas crianças com um só adulto que, ou está ausente a trabalhar na machamba para a sua própria auto-suficiência, ou então é portador de “ doença prolongada”. É realmente importante que os tutores ai em Portugal compreendam a importância da ajuda monetária que enviam mensalmente porque estas famílias dependem dela para sobreviver, mesmo! É uma responsabilidade acrescida que não deve ser levada com leviandade porque ninguém escolhe viver na miséria e porque é necessário criar condições para que a miséria acabe e as ajudas deixem de ser necessárias!
Os dias aqui na Casa Esperança começam muito cedo e acabam muito tarde mas não há cansaço que nos vença porque há muito trabalho a fazer! Viver esta experiência é algo único e muito difícil de transmitir! Ás 5 da manha começa o dia destas crianças: limpam, arrumam e preparam-se para ir para a escola onde se sentam no Chão de terra e dividem um mesmo livro escolar na ânsia de aprender algo mais com o que a professora diz num clima em que ter atenção é bastante complicado porque o calor é muito. Chegam da escola e vão matabichar ( tomar o pequeno-almoço) e depois passam o resto do dia em trabalhos na machamba ou a estudar para a escola. Falam muito, berram muito, riem muito, discutem muito e lutam pela atenção individualizada que nunca tiveram. É muito engraçado viver com eles o dia a dia e perceber que ajuda simbólica que damos nas explicações ( que são fundamentais porque as debilidades na aprendizagem são muito grandes) e nas conversas que vamos tendo, é uma ajuda que faz toda a diferença!
A mensagem que queremos deixar, deste primeiro mês em missão, é um pedido: ajudem esse país e estas crianças! São vidas que valem a pena e o investimento feito não é em vão! É necessário, imprescindível e quanto mais ajudar-mos mais rapidamente deixará de ser necessária a ajuda humanitária. O objectivo da ataca é exactamente esse: deixar de existir pois isso quererá dizer que todos os problemas foram resolvidos e as necessidades colmatadas!
Um muito obrigada a todos os tutores que tornam esta missão possível e um grande beijo para todos os companheiros da ATACA.
Isabel e Joana.