De volta a Quelimane, diria mesmo, de volta a casa.
A primeira vez que se vem a África marca-nos de uma maneira irreversível, mas a segunda, marca-nos de uma forma muito diferente.
Voltar aos mesmos lugares, ver as pessoas já conhecidas, as pessoas novas, sentir o mesmo calor de sempre do povo moçambicano, a luz que é única no mundo….é mesmo voltar a casa, porque tudo fica guardado cá dentro de uma tal forma que, quando se regressa, sente-se que nunca chegamos a partir.
Eu sinto-me muito privilegiada por poder regressar este ano, acima de tudo, por voltar ao mesmo sítio, a bela cidade de Quelimane e sobretudo porque foi indescritível a forma como fui recebida por todos com quem criei laços muito fortes e muito importantes no ano passado. Todas as crianças, as tias, as irmãs e as mamãs dos bairros mostraram uma felicidade tão grande por me reverem que é quase impossível de explicar. Sermos recebidos com tanto amor e carinho e com tanta felicidade enche qualquer ser humano.
Começando pelo princípio, após a chegada ao Maputo, a estadia foi muito curta pela capital. O mais importante para nós (eu e os meus novos companheiros, o Raul e o Tiago) era preparar um bom farnel, pois tínhamos machimbombo às 5 horas da manhã do dia seguinte, para Quelimane, e, tendo em conta a minha experiência do ano passado, sabíamos que o tempo de viagem pode prolongar-se bem mais do que o que está previsto. Às 5 horas da manhã já estávamos no meio do rebuliço entre machimbombos, cobradores, motoristas e vendedores de tudo o que possam imaginar, cada um tentando a sua sorte. Um amigo de Maputo levou-nos até ao machimbombo que ia partir para Quelimane, e lá vimos as nossas malas a subir para o tejadilho no meio de tudo o que são malas e pacotes, colunas e televisões. O sistema de lugares marcados é algo que é muito difícil de funcionar e portanto após muitas confusões e muitas malas metidas no machimbombo clandestinamente para não serem pagas lá partimos com 3 horas de atraso e muito, muito peso.
O motorista deste machimbombo revelou-se motivado a tentar bater algum recorde que existisse no tempo de viagem entre Maputo e Quelimane, e como tal, não havia muitas paragens, ou mesmo quase nenhumas e, só por revolta dos passageiros, que ameaçavam fazer, mesmo ali o seu chichi, o motorista lá cedia e parava, mas sempre só por 10 segundos.
Passamos a noite no rio Save e havia alguns bares com música e muita gente a dançar. Nós os 3, ao contrário de alguns passageiros, não dormimos e estivemos a conversar com outros viajantes de outros machimbombos, o que foi muito interessante.
No dia seguinte chegamos a Quelimane, eram já 20 horas, o motorista muito contente pois só tinha demorado dois dias, e nós os 3 como se tivéssemos levado uma coça daquelas valentes! Eheh!
Mas o que tínhamos à nossa espera compensou tudo aquilo! O nosso companheiro Evaristo esperava por nós com algumas crianças da casa, e a Tia Teodora tinha um belo caril de camarão à nossa espera que, digo-vos, deixou-me babada!
Foi uma recepção fantástica!!! Com muita alegria! Abraçamo-nos todos durante muito, muito tempo. Foi uma grande felicidade.
Tudo isto contribuiu para ganhar muita força e ânimo para este mês intenso de trabalho e de grande responsabilidade, sabendo que vou encontrar todos os que aqui ficaram à um ano atrás.
INICIO DO TRABALHO
Após o descanso do fim-de-semana, e das visitas a todos os amigos que a ATACA tem aqui na cidade de Quelimane estava na altura de começarmos com o nosso grande trabalho que são os Externos2 e do qual nos vamos ocupar durante este mês.
Estava bastante ansiosa por rever a mamãs que sempre me receberam tão bem e por ver comos estavam todos os meninos.
Este ano o nosso trabalho está bastante mais facilitado, pois temos as bicicletas deixadas pela Joana e pela Isabel o que, digo-vos, é delicioso, pois aqueles quilómetros todos a pé são bastante duros.
Já visitamos todos os externos uma vez, e se por um lado teve coisas que me deixaram feliz, teve também, outras que me preocuparam.
Todos os projectos que lançamos estão a correr muito bem, desde as latrinas aos poços, e uma das famílias conseguiu ter luz em casa. As crianças na sua maioria tiveram este ano um melhor aproveitamento escolar e têm agora mais gosto pelo estudo. Todos os que ainda não tinham idade para ir a escola já estão agora na primeira classe e bastante satisfeitos.
Isto tudo é um grande motivo de satisfação para nós, pois os frutos já estão a ser recolhidos e são muito positivos. No entanto, este ano aqui no norte da Zambézia houve muita seca e, portanto as colheitas das mamãs não foram muito grandes, servindo apenas para algum consumo e nenhum para venda.
Nota-se bem a preocupação delas, pois vêem a vida mais difícil, o que imediatamente se traduz nos preços dos bens que estão este ano mais caros. A somar a esta problemática, está o grande problema do HIV no país, que causa muitas mortes, e tráz muita desgraça, sobretudo muitos órfãos. O que acontece é que os agregados familiares aumentam pois as mamãs acolhem os seus sobrinhos e ficam com muito mais crianças a seu cargo.
Estes problemas graves são muito semelhantes nas famílias que apoiamos e teremos de trabalhar agora nestas problemáticas.
No entanto, muitas das coisas que encontrei foram extremamente satisfatórias e é grande o agradecimentos que estas famílias têm por toda a gente que aí de longe os ajuda com o que pode. Sem dúvida que tal se deve a muita gente mas, sobretudo aos nossos tutores que com o seu esforço contribuem para um grade impacto em muitas vidas.
Esperamos esta semana a chegada dos voluntários que vamos acolher aqui em Quelimane antes de partirem para os destinos de Pemba e Milange.
Vamos dedicar esta semana a “recolher” crianças que necessitam da nossa ajuda, o que é um trabalho difícil pois temos de avaliar bem todas as situações e ter acesso a muita informação para depois transmitirmos aos tutores, como as cédulas das crianças. Vai ser muito cansativo mas vai valer a pena e vamos sempre visitando os já apadrinhados pois com as bicicletas podemos ganhar mais tempo e fazer render bastante a nossa estadia.
Vamos começar também para a semana com explicações aos miúdos externos, para que tenham mais apoio e motivação, por forma a terminarem em beleza este último trimestre.
Quanto aos meninos de cá da Casa Esperança continuam todos muito queridos e foram fantásticos a receberem-nos. Andam muito bem comportados e hoje, que começou o terceiro trimestre estavam entusiasmados por voltar a escola.
É muito bom voltar à rotina de acordar com eles às 5 horas da manhã e não poder adormecer até todos estarem a dormir, pois são crianças extremamente vivas, eheh!
Eu estou mesmo muito feliz de aqui ter regressado e de estar num projecto como o da ATACA. Voltarei a dar notícias de todos daqui assim que possa.
Beijinhos para todos e sobretudo um grande obrigada a todos os que nos apoiam. Tenham muito orgulho disso.
Rita Esteves
Caros Companheiros e Amigos
Foi bom ler as vossas notícias mas, principalmente, saber do vosso entusiasmo e dedicação aos projectos que tão queridos nos são e aos quais dedicamos tanto das nossas vidas. Soubessem alguns dos nossos parceiros institucionais, que deles beneficiam, entendê-los como tal e talvês nos sentissemos mais recompensados, a par da satisfação que sentimos com as reacções das pessoas que integram esses projectos e que a Rita tão bem nos descreveu. Mas isto são contas de um outro rosário que o tempo se encarregará de resolver por nós …
Quero dexar-vos uma palavra de carinho e grande apreço por toda a família ataca que por cá vai acompanhando o vosso trabalho e o espera para dar lhe dar continuidade junto dos tutores que connosco estão neste projecto.
Grande abraço par eles e um beijinho para elas.
durana pinto