Era noite quando cheguei.
Para trás: Porto, Lisboa, Joanesburgo, Maputo. As viagens por ar não me deixaram ver o que queria e, apesar de ficar em Maputo um dia, ainda não tinha sentido nem cheirado nem reconhecido…África.
Maputo – Quelimane de avião também foi assim..nem consegui ver o que me tinham descrito: as fogueiras em torno da cidade, km de fogueiras. Tinha um holofote da asa do avião directo nos olhos! Da próxima…há-de vir!
Como dizia, era noite e grande, como só em África se pode ter. Cheguei cansada de aviões e aeroportos e malas e bilhetes e…gosto de terra e chão para pisar. Vi um portão verde e reconheci: na casa li “Casa Esperança”, a que conheci antes de chegar. Lá dentro dormiam as crianças, a Rita apareceu e então senti o que vai cá por dentro quando reconhecemos alguém: saudade!
Vi as estrelas cadentes e os pirilampos e falei com os amigos que já cá estavam e os que chegaram comigo. Falámos e falámos de outros amigos, em Portugal, a pensar em nós, da viagem, das crianças, dos projectos, as preocupações, o trabalho a realizar.
Cheguei com a cabeça ainda na sede da associação, com a base de dados, com o Fred e o Tiago em autismo de maluquinhos de computador! Já tinha aterrado horas antes e ainda não tinha aterrado. Demorei algum tempo a chegar…admito.
Mas agora já cá estou! E entre as tropelias normais de chegada, a burocracias de papéis a tratar e o tentar decorar rostos, nomes, ruas, bairros, mercados vou-me orientando neste novo mundo que será um meu durante um ano.
Sinto que não fui muito rápida a dar notícias aos amigos em Portugal: desculpem-me, mas já sabem que quando a vida é grande e cheia, fico com pouca paciência para o computador…tenho saudades vossas, de todos! E já consigo andar de bicicleta (para os mais cépticos!!!).
Estou bem, muito bem e sempre a aprender: com as crianças, as tias, as mamãs, os meus colegas e amigos no trabalho, o Evaristo…com esta gente.
Perdoem a falta de descrição de viagem: é que eu só queria chegar e esqueci-me muitas vezes que a viagem já é destino e história. Mas (tenho sempre um “mas” na manga!) vou ficar cá um ano e não faltarão relatos de histórias felizes e tristes, de risos e lágrimas, de vida(s).
Para já …ainda! Tenho o coração cheio e os olhos abertos para ver e saber mais: ainda não falam os olhos, só o coração. Deixem-me dizer-vos que estou em casa, que acordo com risos e cantos dos meninos da nossa casa – e que meninos!, que tenho o carinho de muita gente e que espero conseguir retribuir o que estou a receber com o meu trabalho.
Só para terminar: vou partir a cabeça a aprender Chuabo!! Devia ter estudado mais nas aulas de Variedades do Português…
Beijos a todos e até já!
Paula Coelho