Mais uma vez chega ao fim a minha viagem e o regresso fica cada vez mais próximo e o coração mais apertado. É difícil virar as costas e partir, mesmo sabendo que é uma partida com retorno e que o momento do próximo regresso já está na cabeça e no coração.
Como sabem, o meu trabalho aqui este ano prendeu-se, devido ao pouco tempo e às tarefas que existiam, aos externos 2, ou seja, às crianças que não vivem na Casa Esperança, mas que a ATACA apoia. Assim, os momentos passados com os internos foram mais curtos este ano, pois as viagens pelos bairros levavam-nos o dia todo, e a recolha de novas crianças exige de nós uma postura de grande concentração e grande trabalho de computador. Assim, não consegui responder a todas as chamadas de atenção por parte dos pequenitos aqui da casa. Decidimos por isso, antes da partida do Raúl e do Tiago, levá-los todos à praia no Domingo passado, tendo assim oportunidade de brincarmos com eles e darmos-lhe atenção. Foi também positivo para a Paula que assim consegue ir conhecendo-os um pouco melhor, apesar de ter um ano inteirinho para o fazer!
Foi um dia mesmo muito bem passado, e que devemos ao nosso grande amigo Gani, que se disponibilizou a acompanhar-nos e levar-nos a todos (panelas do almoço inclusivé) na sua carrinha de caixa aberta até à praia de Zalala. Foi uma animação, os miúdos felizes da vida e nós os quatro também pois os objectivos deste ano exigiram muito trabalho da nossa parte, não existindo muito tempo para descanso.
O dia estava bonito, embora a temperatura para os miúdos fosse fria. Já para nós, um clima de Verão português que nos fez imediatamente entrar no Índico e aproveitar a maravilhosa praia de Zalala. Os rapazes lá foram entrando a medo pois tinham frio, mas pouco depois já todos corriam para molhar os tios (nós os 4, embora o Tiago e o Raul não estivessem muito receptivos à água) e as guerras de areia foram muitas. Só parou tudo quando chegou a hora de almoço, e todos já tinham muita fome! Foi um dia mesmo bem passado, e nesse dia não foi preciso mandar ninguém para a cama à noite pois os miúdos estavam estoirados.
O trabalho desta semana não foi tanto de campo, pois é necessário organizar toda a informação para levar para Portugal. É mais cansativo, mais chato, e obriga-nos a estar até várias horas fechados em casa em frente ao computador feitos autistas como diz a Paula. Mas é um trabalho tão imprescindível como o de campo, pois as informações que recolhemos são fundamentais e muito importantes dizendo respeito à vida das nossas crianças. É um trabalho muito sério.
Decidi ainda ter uma reunião com as mamãs antes de me ir embora, não só para trocar ideias com elas, para lhes mostrar como nos organizamos, para lhes apresentar aquela que será uma grande amiga delas durante um ano, a Paula, mas também para que elas pudessem conviver entre elas e connosco. Para que nos possamos conhecer melhor e ter ainda maiores laços de confiança e amizade. Convidamo-las a virem à nossa casa, em vez de irmos sempre nós às delas. E a reunião correu muitíssimo bem! Foram poucas as mamãs que faltaram, por razões de trabalho ou saúde, e as que vieram participaram animadamente e chegamos a ter até alguns debates interessantes. Foi uma manhã que me encheu mais uma vez de orgulho, pois é a prova viva da importância, da concretização do PTàD! As coisas acontecem e ganham vida aqui. Foi maravilhoso ouvi-las todas a gritar pela ATACA e perceberem que ai longe há muita gente a trabalhar e a acreditar nelas e nas crianças. Foi sentir mesmo que estamos juntos, e muito aprendemos com elas.
Comigo levo mais crianças para apadrinhar, levo informação daquelas “já nossas”, mais conhecimento da realidade e acima de tudo levo mais orgulho. Orgulho da ATACA, orgulho de quem um dia se lembrou que podíamos fazer algo mais e iniciou esta aventura. Levo todas estas crianças comigo mais uma vez, levo mais amizades e amizades mais reforçadas ainda. Levo os voluntários que comigo partilharam aqui o trabalho. Ao Raul e ao Tiago, que foram uns grandes companheiros não posso deixar de agradecer. Foram fantástico e muito trabalhadores. Adaptaram-se à realidade como se já aqui viessem todos os anos. E que muito animaram os meus dias com as suas parvoeiras, eheh porque eles sabem que são uns lones. Falando a sério, gostei muito de trabalhar com eles, e agradeço muito o espírito de grupo que desde inicio tivemos. Aos grandes companheiros que seguiram viagem até outros destinos e que tenho certeza fizeram também um excelente trabalho. Ao Pedro e à Alexandra que muitas explicações deram e que de certeza farão toda a diferença em Milange. Á minha “prima” Guida!! Uma mulher cheia de coragem que abraçou este projecto de uma maneira única e provou ser uma grande atacante. Ao Fred, o meu autista, que muito trabalhou até chegar no terreno, e graças ao seu autismo o trabalho foi muito simplificado, existindo agora uma base de dados topo de gama. E claro ao meu “chefe”, o sr. Teles, que mesmo longe foi um suporte e um apoio imprescindível, e que muita força me foi dando lá de longe, de Pemba.
Todos os que referi foram muito importantes, mas sem aqueles que em Portugal continuaram a dar o seu trabalho não seria possível. Enquanto aqui estive, sei que muitos não saíram da sede, estando sempre a trabalhar e disponíveis para nós aqui de longe que de vez em quando temos assim umas dúvidas esquisitas, às vezes provenientes do cansaço. Ao nosso chefe aqui do terreno Tiago Ribeiro deixo um obrigada gigante, pois não passa de outro autista para quem a sede é casa, e que todos os dias nos aguardava na Internet para saber dos nossos dias e para nos fornecer informação. Fora de série mesmo.
À ATACA da qual me orgulho de pertencer, que me possibilitou a vinda pela segunda vez, que me apoiou e que tive a sorte de conhecer. É mesmo um orgulho fazer parte. Um muito obrigada ao nosso presidente Durana, por tudo aquilo que é.
Se pudesse agradecia a toda a população de Moçambique, pois aqui sou sempre extremamente bem recebida, mas aos muitos amigos da ATACA em Quelimane como o Gani, à Casa Esperança, às Irmãs que mais uma vez foram fantásticas, às minhas tia Guida e tia Dora, que me receberam como umas mães e claro, ao grande Evaristo, o melhor colaborador de sempre imprescindível e único como só ele sabe ser e com quem é um enorme prazer trabalhar dia após dia. Muito Obrigada.
Às crianças e às nossas mamãs, pois elas sim merecem pelo esforço que todos os dias fazem por viver, mesmo apesar de todas as dificuldades e adversidades que encontram e que nos dão grandes lições de vida. Um obrigada gigante a elas.
À minha família evidentemente, que já se vai habituando às minhas vindas e à minha doença atacante, e que me apoiou sempre. Aos amigos maravilhosos que tenho e sem os quais eu não estava aqui mesmo! Muito obrigada a todas estas pessoas que são como uma grande famílias.
Aos tutores, que fazem a diferença, e aos quais devemos a realização do nosso projecto.
Privilegiada sou por aqui ter voltado, e poder ver tudo com os olhos da segunda vez. Sei que o meu trabalho este ano foi mais rico, e sei que o conhecimento que levo irá melhorá-lo ainda mais quando ai chegar. Não é mais uma vez um adeus definitivo. A minha casa também já é aqui e aqui estou cativada uma vez mais. Cheia de África dentro de mim e vontade de cada vez fazer melhor. Obrigada a todos e até breve.
Tamos Juntos
Rita Esteves
Fantástico testemunho Ritinha.
Se tu agradeces aos amigos que aqui estão e que sempre te apoiaram, também te devo agradecer a ti por aquilo que dás a essas pessoas que tanto merecem. Estarei de novo aqui para te dar todas forças para um dia regressares. Parabéns por seres assim. Beijinho Chico
Querida prima, sobrinha, amiga e grande companheira, que se despede desta terra mais uma vez. Africa teve a sorte de a ter ca duas vezes,uma pessoa com tanta garra e simpatia, que consegue dar animo a qualquer um. tenho saudades, mas tenho a certeza que no Porto quando nos encontrarmos, teremos umas ameijoas a moda da Rita, para contarmos estas aventuras. tenha uma boa viagem e brevemente nos veremos. Beijo grande da titia.