Às vezes as saudades falam mais alto e invade-nos esta nostalgia de ser português. Salva-me a língua que me faz sentir em casa, os meninos que são a luz dos meus dias, as tias que me dão o mimo de mãe, o sorriso das mamãs que encontro na rua e nos saúdam como família e uma menina que passa e diz: “Tia Paula! Bom dia, bom dia! No sábado vou à explicação.”

Salvam-me os amigos que vou fazendo, o Gani e a sua infindável boa vontade para tudo e mais alguma coisa, o Padre Estêvão com a sua boa disposição e o dicionário de Chuabo que me emprestou, a Marisa com os seus beijos meigos e o atendimento personalizado na Pizzaria, o Aurélio, o Rui e os pais, o Razak e toda a sua maravilhosa família: Jorge, Yussuf, Kadir, Yassmin, Mariam, Xarif, …ena, já são muitos, mesmo!

Na semana passada começamos a tratar da decoração cá em casa e a I. Lídia arranjou uns quadros e outras coisas mais que também ajudam a alegrar o espírito. Lembrei-me que em Portugal prepararam a inauguração da sede da ATACA, agora renovada e um brinco (pelo que ouvi dizer),.. Já falhei essa…

A Sara, já no ritmo de Quelimane, é uma excelente companhia na conversa e no silêncio. Ainda bem que aqui está…e que me atura!

Mas sim, tenho saudades da minha (outra) família e dos meus amigos tugas, do Outono espelhado no rio Douro, do caminho para o monte (ou Paços de Ferreira) ao fim de semana e do meu cão doido ao portão, dos meus dois sobrinhos lindos (os whities!) …

Tenho saudades da Ribeira e de um fino no Frank, de percorrer a marginal até à Foz e pedir uma caipirinha…ah, saudade!

E não me importo de ter saudades porque é bom, faz-me sentir amada por muita gente, faz o coração bater mais alto, mais descompassado, faz-me mais humana.

E porque tudo isso não me impede de ser feliz aqui. Cada vez mais estou em casa e depois vou ter saudades e vai ser mais complicado ainda… e lá estou eu a stressar com o que está para vir!

Vamos ao que interessa, que isto de desabafos não anima ninguém!

Prometi que falava das crianças e hoje é a vez do Quinho e do Inô. Falo deles a par porque são, respectivamente, irmãos dos anteriores artistas Nando e Chico – e quem não leu que o faça agora!

O Quinho gosta de tentar assustar as tias e quando cheguei disse-me que havia por cá muitos bichos-papão! Um dia chega e diz: “Tia, matei o último, já acabou!”, mas não acabou porque entretanto apareceu outro em casa, o “Terror”, que deve ser da família do anterior…

É também um excelente professor de Chuabo, mas debita tanta informação de uma vez só que fico (mais uma vez) lost in translation! Às vezes é um bocadinho preguiçoso…como o são todos os meninos, mas é uma delícia conversar com ele e vamos ser grandes companheiros.

E agora o Inô: este conquista qualquer um só com o sorriso e não conheço nenhum com uma expressão tão sofrida e concentrada quando canta – mesmo nos ensaios!

É muito bom aluno na escola e é, quase sempre, bem comportado. Há um pormenor que acho muito querido, apesar de saber que o transtorna um bocadinho: o Inô gagueja e quando fica nervoso, naturalmente nota-se mais. Fica um doce, a sério! Um dia tentaram enganá-lo no troco do pão e demorei um bocadinho a perceber…

Mais uma vez: impossível não morrer de amores por este menino!

E pronto, agora que já babei o suficiente a falar de crianças, acrescento só que chegaram novas tias, Mena e Tita, que já estão no ritmo Casa Esperança e que tiveram uma recepção à maneira com direito ao menu completo: canções, teatro, capoeira, refresco e bolachas, capulana e discoteca pela noite dentro. Acho que os putos já lhes ensinaram umas coisas…mas disso falarão elas.

Nova moda: anda tudo a apostar banhos de lama. Acho que as novas tias ainda não perceberam que o conceito não é bem um tratamento de beleza…a ver vamos!

Um agradecimento muito especial à irmã gémea da Tia Mena: tenho máquina fotográfica outra vez! Muito obrigada, mesmo!

E os assentos de silicone para a bicicleta…um verdadeiro luxo!

Beijos e abraços do Bairro do Aeroporto!

Paula

5 Responses to Às vezes
  1. Querida AMIGA ISMENIA, Tenho MUITO ORGULHO em ter uma Amiga como tu, Continua a aproveitar bem esta tua experiência tão enrequecedora, mil beijinhos e PARABÉNS por seres um ser Humano tão BONITO.

  2. Pronto Pronto…
    Para não dizeres que só deixo comentários fatelas:
    Também estou com muitas saudades tuas.. e, vá lá, da Sara também (as coisas que a gente diz para não levar no pêlo mais tarde!!)!
    Mas força aí mulher.
    Logo logo estaremos todas reunidas novamente para partilhares connosco todas essas magníficas recordações (só não sei é se eu e a Sara nos vamos lembrar no dia seguinte… ihih)e … voltarmos a reclamar das futilidades do nosso dia a dia que aqui e agora nos parecem coisas tão grandes e importantes.
    Nessa altura acredito que as tuas recordações nos vão ajudar a ver o quanto aprendeste, n'é?… E, já agora, cozinhar também para nós um marisquinho, não???
    Afinal gabam-te aí dotes de boa cozinheira, mas eu contigo só me lembro (e vagamente!!..)de comer chouriço no "Presuntos", pá!!
    Beijo Grande e…
    MUITAS FOTOS SIM?? PLIZZZZZZZZ

  3. OLHA LÁ Ó PANDÉRICA
    Mas quem disse que nós gostávamos de ti???
    Estávamos era sempre com demasiada cerveja no corpito e parecia que gostávamos!!
    Ora… convencida!!
    Agora a sério:
    A Ribeira também tem sentido muito a tua falta, tal como a Foz… é que parece que o consumo de bejecas e caipirinhas desceu drásticamente nos últimos meses e anda tudo a gritar:
    PANDÉRICA BOLTA!!! .. pelo negócio, claro está!!

  4. Olá, Paula. Olá, Sara. Olá, Manas Letícia e Isménia (ou vice-versa).

    Tenho lido os textos que têm publicado com prazer inconfessável. Na hora de deixar um comentário, nada! Nada soa bem, nada se adequa, nada está suficientemente bem.

    Bebo as vossas palavras, vivo as vossas emoções, estou aí convosco!

    Continuem o bom trabalho!
    Bjos,
    Fernando Leite

  5. Deixa lá que o Porto e a ribeira e os amigos em Portugal também devem todos ter saudades tuas. Eu por mim falo. Mas aproxima-me ler-te aqui com essas palavras calorosas cheias de sentimento por tudo e por todos. É giro reparar como essa experiência te faz sentir tudo com muito mais força e viver tudo com mais intensidade. Isso, mesmo com saudades, é extremamente positivo 🙂

    Quando voltares temos de fazer uma jantarada no Melo (que, fiquei a saber, foi fechado pela ASAE, e agora atende a portas fechadas e por telefonema). Assim mato saudades tuas e, ao mesmo tempo, do Porto 😉

    beijocas e apresenta-nos mais meninos 🙂


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