Era uma vez e não era uma vez … uma casa feita de pau, terra, areia e macubar onde viviam uma mamã com três filhos, duas sobrinhas, uma nora e um neto. O pai dos dois mais velhos (18 e 16 anos) já faleceu e o pai do mais novo (10 anos) abandonou a criança após o nascimento. A mamã está neste momento grávida e diz ter sido um «acidente» pelo que o paradeiro do pai é incerto. Vivem ainda debaixo do mesmo tecto duas sobrinhas de uma irmã que faleceu entretanto de uma malária mal curada. A nora tem 18 anos, é mulher do filho mais velho e o neto tem dois meses. Só frequentam a escola o filho mais novo e as sobrinhas. Os outros não têm ocupação mas ajudam nas tarefas de casa. A casa tem paredes em risco de cair devido às fortes chuvas pelo que precisa de ser maticada (coberta novamente com terra e areia) e está dividida em 2 quartos, sala e dispensa. O quarto onde dorme a mamã com o filho mais novo tem cama e rede mosquiteira. Nas outras divisões (outro quarto e sala) dormem, no chão (leia-se terra), os restantes elementos do agregado familiar, sem rede mosquiteira. Nos seus tempos livres, o filho mais novo gosta de brincar com os vizinhos, fazer carrinhos de corrida e papagaios de papel.

A mamã levanta-se às 5h, cuida da horta, varre o chão de porta de sua casa, com sorte prepara o mata-bicho (mandioca cozida, papas – farinha com água e açúcar), e vai pilar o arroz ou milho para depois o deixar a secar ao sol. Chegada a hora do almoço, começa a preparar as brasas com o carvão para cozinhar «xima» (farinha de milho) com caril (estufado de peixe com caldo de galinha ou concentrado de tomate, leite de coco, amendoim..). A nora ajuda nas tarefas, mas sempre com o filho apoiado nas costas, a dormir e seguro com o auxílio de uma capulana. Findo o almoço, é necessário lavar os pratos – como não têm fontanário nem poço vão buscar água do garrafão que compraram, passam por água os pratos e colocam dentro de uma bacia a secar.


Este podia muito bem ser o início de uma ‘estoria de vida’ de uma família moçambicana que a ATACA apoia. Ainda que, nesta vida, nem tudo o que parece é … as fotos falam por si.

Já lá vai quase um mês desde que tivemos que fazer um simpático contributo (cerca de 30euros) à receita da Alfandega do Malawi para podermos renovar o nosso visto de permanência em Moçambique. Missão cumprida e seguimos o trabalho com o sorriso de sempre porque acreditar é a chave do sucesso! Vamos lá!

Longe da família e dos amigos, mas sempre muito perto no coração … Tive um dia de aniversário inesquecível e gostava de agradecer, mais uma vez, ao nosso querido e estimado amigo Gani que nos proporcionou esta ida à praia ! Assim anima !

Até breve!

Isabel

4 Responses to Era uma vez …
  1. Olá, tia Rita,
    As tuas narrativas povoam os meus dias de cores e aromas, ora estranhos, ora familiares…
    O cansaço dissolve-se no olhar grato de uma criança, de uma mãmã. No entusiasmo pueril de um tutor…
    O alento vai-se buscar a cada pequeno obstáculo ultrapassado, a cada pequena vitória insignificante…
    Estamos juntos! (ao coração)
    Bjos às Meninas,
    Fernando

  2. "Once upon a time…"
    Obrigado, tia Isabel, pelas tuas histórias de vida e pela forma lúcida como norteias a tua actuação como voluntária e participas na missão da ataca. A vida é dura, aí…
    Obrigado pelas enorme felicidade que proporcionam aos nossos meninos, com se vê estampada nos seus rostos.
    Obrigado ao Gani, grande amigo da ataca, que não conheço pessoalmente, mas de quem me contam a generosidade há tanto tempo…
    Estamos juntos!
    Bjos para todas. Um especial para ti.
    Fernando

  3. Parabéns, Isabel!!!

  4. Olá a todos!

    Envio-vos um abraço de muita força do Porto. Que a esperança continue a brilhar em vocês…

    Pedro.


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