Depois de muitos meses a sonhar estar aqui, finalmente chegámos! A irmã Lídia e as voluntárias Rita e Isabel vieram-nos buscar ao aeroporto. A estrada do aeroporto para a casa Esperança estava esburacada e alagada pela chuva o que resultou numa viagem divertida (só para nós novatos) aos pulos dentro do carro da Irmã. Eram sete da tarde mas à noite estava escuro, escuro, escuro e era muito difícil ver os peões e ciclistas que se atravessavam na “estrada”.

Ao chegar ‘a Casa Esperança o portão é aberto pelos pequenos e alguns estão muito curiosos a espreitar ou a fingir que fazem coisas ali por perto enquanto olham de ladeio. O mais velho da casa, o João, foi o primeiro a vir ter connosco (se não contarmos com os cães) para nos ajudar a descarregar o carro. Foi um nome fácil de memorizar, mas há outros bem mais difíceis: Atanásio, Mussa, Assamo ou Germano. Pousámos as coisas na casa para os voluntários dentro da Casa Esperança e a Rita e a Isabel levaram-nos ao salão onde as crianças costumam brincar. Os pequenos alinharam-se em filas (dos mais pequenos para os maiores) e cantaram e dançaram musicas de boas-vindas. Havia um que dava o mote e os outros todos cantavam a segui-lo. Depois foram libertos para irem a correr ver a novela: a Escrava Isaura.

No dia seguinte acordámos às 6 para ir à escola em Coalane conversar e entregar o dinheiro as mamãs das crianças externas a Casa Esperança que a Ataca apoia. Quando lá chegamos os quatro, as mamãs responderam com um ar muito, muito sorridente em uníssono: “bom-dia”. O Evaristo (o nosso colaborador local, antigo menino da casa Esperança) disse-nos que estavam mais mamãs do que as que deviam: “Diz-lhes para irem para casa, só damos o dinheiro às mães cujas casas já visitámos, as outras vão ter que esperar pela nossa visita” – disse-lhe a Rita. Isto porque a ataca visita, de surpresa, as casas das mães dos pequenos que apoiamos para perguntar e ver se o dinheiro está a ser bem empregue e se as necessidades da criança estão a ser atendidas. Fomos então os cinco (os quatro mais o Evaristo) para uma salinha da escola onde entrou a primeira mamã. Entrou a rastejar e com dois pequenos. Não tinha uma perna e a outra estava atrofiada e andava, por isso, com os braços e joelhos. Não sabemos bem como chegou à escola. As ruas são uma miséria, estavam alagadas e enlameadas e chovia. Apesar de tudo, a senhora entrou com dignidade e disse-nos bom dia. A Rita e a Isabel perguntaram pela saúde da senhora e dos pequenos. A saúde das mães, em Moçambique, é especialmente importante porque, na sua maioria, são elas quem garantem o bem estar da família.

Neste dia conhecemos uma série de dificuldades sentidas pelas mães, como, o não terem latrina, o telhado ser de palha e entrar chuva em casa, não terem comida suficiente para todos, terem HIV ou malária etc. E nós em Portugal queixamos- nos de cada coisa….

No dia seguinte foi um dia para conhecer alguns dos meninos da casa esperança e o orfanato mais em pormenor. A Rita esteve-nos a mostrar cada recanto, onde eles cozinham, comem, tomam banho, dormem, jogam futebol, brincam e estudam. O «salão» (na foto) é o local onde eles passam mais tempo, pois é onde brincam e estudam.

Engraçado o olhar curioso com que nos olham, eles e os pequenos que por vezes nos acenam na estrada. Estamos ansiosos por lentamente os conhecermos a todos, internos, externos e outros Mocambicanos.

Por agora,

Um beijinho e abraço para todos que acompanham este blog,

Francisca e João

5 Responses to Chegada
  1. A verdadeira medida de um homem não é como ele se comporta em momentos de conforto e conveniência, mas como ele se mantém em tempos de controvérsia e desafio. (Martin Luther King)

    Vejam só o valor da senhora que acabaram de conhecer! São estas lições de vida que nos fazem crescer e reflectir…

    Nem sabemos o que dizer mais: ficamos sem palavras com o que contaram no blog.

    Um abraço bom para todos das

    Sisters que vos adoram

  2. A propósito de "a vida está difícil" como comentava um pequenino ao ver-vos passar de bicicleta qd normalmente os "brancos" aparecem de carro…
    É difícil levar a Esperança com um sorriso mas vale a pena. Basta ler o depoimento da Francisca e do João.

  3. Estou completamente maravilhada com o que estão a viver!!!! Maravilhada e sem palavras…

    Muita força com muito carinho:)

    Beijinhos enormes,
    Ângela

  4. Caro Irmão e querida Francisca,
    Fico maravilhado e muito orgulhoso pelos vossos relatos! Que eles sirvam de inspiração e de exemplo a todos os que acompanham o vosso percurso!
    Muitas Saudades,
    Alberto

  5. Olá Francisca e João irmão,

    Parabéns pelo vosso relato.
    Estamos orgulhoso de vocês.
    Sempre que possam alimentem este blogue, semente de esperança e boas acções para a Humanidade.

    CatiMigui


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