Assim é. Cinco semanas em Ocua com três Senhoras que são um exemplo de Dedicação, Vocação e Amor ao próximo: irmã Glória, que dedicou 50 anos da sua vida ao missionarismo, esteve de passagem por Moçambique e tivemos o privilégio de partilhar com ela momentos únicos de memórias que nos fazem querer recuar no tempo para poder vivenciá-los com o mesmo entusiasmo e humor genial; irmã São, uma Senhora extraordinária que vive de corpo e alma para a gestão do dia-a-dia e «noite-a-noite» (se me permitem) de uma Missão que não tem horário de descanso, nem mesmo quando se adivinha uma «caça nocturna à cobra»; e irmã Isabel, a jovem mas já muito experiente enfermeira da Missão de Ocua, uma verdadeira lutadora e Mulher de ideais que não tem mãos a medir para todos os casos que lhe «batem à porta» – literalmente.
Amanhecer – 6h30 da manhã. Em seguida, o pequeno-almoço do qual fazem parte a compota feita com as abóboras da horta, o pão caseiro cozinhado no forno a lenha e tangerina ou papaia que são retiradas directamente da árvore para o nosso prato. São 7h30 e a manhã de trabalho inicia-se com o Vergílio e o Torres, monitores da Escolinha, que batem à porta para pedir as chaves. As crianças vão chegando, algumas vieram de «taxi» com os monitores nas suas bicicletas. Em seguida, batem novamente à porta – é o Benjamim, socorrista do Posto de Saúde da Missão, que vem buscar a chave. Entretanto ve-se já uma fila de pessoas à porta do Posto. Crianças, jovens, adultos. Todos são atendidos e, mesmo com a escassez de recursos de que a irmã Isabel dispõe, não há de faltar um solução – nem mesmo se o caso for urgente e for necessário o transporte de carro até ao Centro de Saúde de Ocua ou do Chiure que ficam a 10 e 20 km respectivamente. Nem mesmo quando é necessário transportar uma mamã para dar luz ao filho que está prestes a nascer. Entretanto, ora vemos a irmã São a regar ou cuidar da sua hortinha, ora vemos a ser preparado o almoço das crianças da escolinha, ora chega alguém para limpar o milho, ora bate mais alguém à porta. Ao almoço não há de faltar cabrito, galo, coelho ou porco (porque vieram vender à porta, ou porque existe na missão) e couves, alface, beringela, mandioca. Ao longo do dia, o discurso repete-se – a partir das 13h30 o Joaquim recolhe as chaves da escolinha para as aulas do período da tarde e as irmãs não param, seja porque têm reuniões com os catequistas, com os chefes da comunidade, com os animadores da missa ao Domingo, seja porque têm de organizar os encontros nas comunidades da Comissão da Família, da Comissão da Saúde, ou então porque simplesmente vão aparecendo as «mamãs de leite», projecto iniciado pelas irmãs e que visa o acompanhamento das mamãs e seus bébés através da recolha dos dados antropométricos e nutricionais do bébé e fornecimento de leite tanto para o bébé como para a mamã no sentido de ajudar ao crescimento daquele.
No final do dia, adivinha-se um pôr-do-sol que, à semelhança do nascer-do-sol, é uma delícia de apreciar tendo como pano de fundo os embondeiros, mangueiras e cajueiros que rodeiam a Missão. Já à noite, são 3 as horas de luz para cozinhar, ler, ver televisão ou trabalhar no computador pois às 20h o gerador tem de ser desligado – lá vai a irmã São lá fora, de lanterna, destemida, desligar a luz. A partir desta hora, impera o serão à luz da vela, com tertúlias até à altura que o sono nos vence.
Foram portanto cinco semanas que ficaram registadas no nosso coração. Crianças felizes, educadas, amadas. Trabalhadores, Animadores e População agradecidos e cumpridores. Foi um prazer poder fazer parte desta realidade e partilhá-lo agora com todos aqueles que acreditam no trabalho da ATACA ….
«Eu gosto de gente assim, capaz de fazer da Vida a mais bela das suas obras».
"COMPANHEIROS
quero
escrever-me de homens
quero
calçar-me de terra
quero ser
a estrada marinha
que prossegue depois do último caminho
e quando ficar sem mim
não terei escrito
senão por vós
irmãos de um sonho
por vós
que não sereis derrotados
deixo
a paciência dos rios
a idade dos livros
mas não lego
mapa nem bússola
porque andei sempre
sobre meus pés
e doeu-me
às vezes
viver
hei-de inventar
um verso que vos faça justiça
por ora
basta-me o arco-íris
em que vos sonho
basta-te saber que morreis demasiado
por viverdes de menos
mas que permaneceis sem preço
companheiros"
Mia Couto (grande escritor moçambicano)
Também nós havemos de inventar um verso que vos faça justiça, mas por ora basta-nos a paz de saber que há Senhoras assim…
Um grande bem haja pelo arco-iris desenhado na vida das gentes de Ocua
Um abraço amigo das
Sisters
Caramba! Do modo como nos descrevem, só nos podemos orgulhar por ter a Missão de Ocua como parceiros!
Imagino que saiba muito bem, poder beber da sabedoria de quem já está nesta vida há tantos anos!
Deixo-vos um grande beijinho Rita e Isabel (agora que já estão quase a terminar – desculpem não ter escrito mais)
Outro beijinho para a Francisca e um abraço ao João