Não foi de má fé esta ausência de escrita, mas sim uma série de factores que me impossibilitaram de vos reportar a minha experiência aqui em Moçambique.
Começando pelo início,
Como sabem eu e a Isabel partimos para Pemba no dia 22 de Junho, onde nos encontraríamos com a Irmã São e a Irmã Isabel para nos instalarem na sua missão de Ocua.Como sempre fomos extremamente bem recebidas, com muita alegria e afecto e viajamos para Ocua, que fica sensivelmente a 160 km de Pemba, para o interior.
Como já tinha descrito, Ocua é um local maravilhoso, muito bom de estar, e fez nos muito bem para reduzir o stress do nosso dia-a-dia em Quelimane.Em Ocua, o tempo corre bem devagar.Não há pressas para nada até porque a missão fica no meio do nada, tendo apenas uma aldeia circundante, a aldeia de Mahipa.
O nosso dia-a-dia era bastante rotineiro e calmo, muito mais de aprendizagem do que de ensinamentos.Em Ocua tudo corre extremamente bem, não sendo necessário uma grande intervençao nossa.Da parte da manhã, ás 7 horas já os meninos chegam para a escolinha, as duas turmas dos 4 aos 5 anos.Os monitores, Vergílio e Diamantino já os esperam, e após algum tempo de brincadeira é hora de lavar as mãos, colocar os bibes e cada um entrar na sua salinha.Aí eu e a Isabel passámos algum tempo, a ver os trabalhos manuais que fazem, as brincadeiras que os ajudam a aprender, a ouvir as canções que sabem.Da parte da tarde, às 13 horas chegam os mais velhos, os que de manhã vão à escola, pois andam na 1ª ou na 2ª classe, e à tarde vêm fazer o reforço.São bem mais traquinas do que os da manhã e estes já percebem um pouco de português, pelo que é mais fácil comunicar com eles.É extremamente importante este sistema de ATL, e é notória a diferença que adquirem relativamente aos outros meninos da aldeia.São mais motivados e desenvolvem mais a suas capacidades cognitivas.O monitor da tarde, Joaquim tem imenso jeito para os cativar e motivar, uma vez que da parte da tarde é necessária mais paciência, pois já vêm cansados da manhã.Após alguns minutos de brincadeira também fazem fila para lavar aos mãos, e de seguida formam para cantar o hino “Pátria Amada” com orgulho e repeito.
O momento alto para estes meninos foi quando lhes entregámos as cartas dos padrinhos.Imaginarem que alguém de um sítio tão longe lhes manda olás e fotografias e desenhos é para eles um momento mágico.Assim como para nós!Pena que não tenham recebido todos.Aproveito para apelar aos padrinhos, escrevam, dêem notícias pois não podem imaginar o impacto que essa pequenina demonstração de carinho tem nestas crianças!
A Irmã São e a Irmã Isabel fazem um trabalho simplesmente exemplar!A Irmã Isabel, que chegou recentemente do Brasil, depois de 10 anos de missão, veio substituir a Irmã Mila, e tem feito um trabalho notório no posto de saúde da missão, uma vez que é enfermeira.Com ela aprendemos tanto, mas tanto!Observá-la no Posto a trabalhar era uma honra.E são muitas as vezes em que se vê obrigada a pegar no carro e levar doentes ao hospital, uma vez que o mais próximo se encontra a 10 km da missaõ.Imaginem uma mulher em trabalho de parto…como pode a pé ou de bicicleta lá chegar?
Foi um mês de trabalho muito produtivo, de muita aprendizagem e também de algum descanso.Confesso que a parte que não gostei, ou melhor, não esquecerei, foi ter tido uma cobra a 10 metros de mim toda empoleiradinha a tentar cuspir-me veneno….mas é para aprender a não sair de casa sem lanterna à noite!
Foi com muita pena que nos despedimos das nossas Irmãs, e aqui não relato tudo porque senão corro o risco de ter textos maiores que os da Tia Pata..eheh
Regressámos a Quelimane e confesso-vos que já morria de saudades dos nossos meninos!Receberam-nos com muita alegria e mal regressámos no dia seguinte começámos logo a trabalhar, pois o tempo parece que está a voar e queremos deixar tudo em ordem para os nossos grandes substitutos Francisca e João! No entanto, pouco depois de os nossos companheiros atacantes chegarem a Quelimane, sofri uma investida de uma mosquita, que devia ser bem nervosinha e me deixou com uma malária resistente, que hoje vejo curada mas que prostrou uma semana de cama.
Dai que, em Ocua não tendo net, nada podiamos publicar, e depois quando queria ter escrito não tinha condições.
Assim acredito que esteja perdoada por todos aqueles que seguem este blog!
Quanto a Quelimane tenho a certeza que, pelo que já vi, ficará muito bem entregue à Francisca e ao João, que têm desde que chegaram absorvido tudo ao máximo e muita vontade de continuar a representar a ATACA e a ajudar estas crianças sobre a vida das quais graças a vós desse lado nos fazemos a diferença!
Sim, estou já a falar em jeito de despedida, pois no dia 17 de este mês eu e a minha companheira Isabel terminámos os nossos 6 meses de missão, e dia 18 regresso a casa.
Foram 6 meses longos e rápidos, pois o tempo aqui tem esta particularidade.Ora parece que aqui vivemos à anos, ora parece que foi ontem que chegámos.
Quero aqui recordar as companheiras Patrícia, Marta e Ana, que connosco viveram esta missão, e que a marcaram cada uma da sua forma.Principalmente a minha companheira Isabel, com quem vivi 6 meses e partilhei o mesmo quarto, pois sempre soubémos viver com as nossas diferenças e apoiámo-nos nas horas de maior sofrimento. Aliás à Isabel, à Francisca e ao João tenho um enorme agradecimento a fazer, pois foram uma verdadeira família para mim e os grandes pilares na recuperação da doença.
A toda a diocese de Quelimane, nomeadamente na pessoa do Padre Santos que foi incansável, a D.Hilário da Cruz Massinga, Bispo de Quelimane, o meu honroso obrigado por todo o apoio, carinho e coragem que nos deram.
À Irmã Lídia, que nos voltou a receber na Casa Esperança o meu obrigado.
Às Irmãs de Ocua que foram uma mães, quando já sentiamos a falta das nossas.
Ao incansável e sempre disponível Gani, que mais uma vez provou fazer parte da família ATACA!
Ao espectacular e único Evaristo, sem o qual o nosso trabalho se tornaria impossível e que luta todos os dias connosco.
Sobretudo aos nossos meninos, às nossas mãmãs, com as quais não paro de aprender lições de vida incríveis, pois a experiência vale o que vale.E saio daqui ainda mais rica!
A toda a equipa ATACA, em Portugal, sem a qual nada disto aqui acontecia, e perdoem-me os outros membros mas um agradecimento muito especial ao Miguel Freitas, que foi fora de série nesta missão à distância, que sempre esteve presente apesar dos 10000km e que assim nos fez sentir mais seguras, acompanhadas, presentes.Estou agora pronta para regressar a vós equipa.A todos os tutores, amigos e família ATACA, que acreditam nisto incondicionalmente como nós.
Por último e não menos importante de todo, à minha famíliaque tão bem aceitou a minha 3ª missão.Que sempre me apoiou, que sempre esteve presente e aos meus amigos.Nunca neste 6 meses me senti longe de vós e sou abençoada por vos ter.
Foram 6 meses diferentes de tudo o que aqui já tinha vivido.Com períodos difíceis, outros mesmo dolorosos.Com perdas e reverssos que nos obrigaram a muita força de vontade.Agora, posso dizer que volto com sentido de missão cumprida e sei que dei o meu melhor.Agradeço a confiança que depositaram em mim.Espero ter sido merecedora de tal.Não, não mudámos o mundo claro, no entanto:
“A pior desgraça que nos pode acontecer, escrevia Raul Follereau, é não ser úteis a ninguém; é fazer que a nossa vida não sirva para nada”.
“Nossa primeira tarefa
Ao nos aproximarmos
de outro povo,
de outra cultura,
de outra religião,
é tirar os sapatos;
porque o lugar do qual nos aproximamos
é Sagrado.”
Até Breve,
Estamos Juntos
Rita Esteves
Parabéns Rita e Isabel por este trabalho maravilhoso, por terem dado tanto de vocês a estes seres humanos maravilhosos:)
Já fiquei arrepiada pela tua maravilhosa descrição.. e não tenho palavras!
Façam uma viagem de regresso em segurança, viagem abençoada e cá vos esperamos com enorme carinho e para ouvir as vossas experiências!!!!
Um grande beijinho,
Ângela
Rita,
De facto, és a nossa "Guerreira da Solidariedade", a tua dedicação é impressionante. Devemos-te o maior respeito! Fazes com que o projecto "aconteça". Uma verdadeira ponta-de-lança!!
Gostava de alargar o agradecimento que me fazes a todos os voluntários que acompanham e gerem o projecto em Portugal, no dia-a-dia de um trabalho, por vezes repetitivo e meramente administrativo, mas tão nobre como o vosso, sempre pela causa que todos defendemos.
É um previlégio trabalhar com pessoas assim.
Miguel Freitas
E eu, tive o previlégio de te ver trabalhar, de te conhecer, de trocar uma palavrinhas, mesmo que interrompidas pelo grito (ainda hoje estontiante…COBRA, COBRA…), é de facto uma guerreira. Dizer o quê, de quem sabe a importancia que tem, algo que se faz pela vida, mesmo partilhada com a dor, o choro, as alegrias dos outros. A Ataca está de parabêns, e tú estás mais rica.
Felicidades, e não baixes os braços por aquilo que acreditas.
O Amigo
João Almeida