Uma realidade ainda mais miserável que a que temos vindo a conhecer: crianças nitidamente subnutridas, com bracinhos tão magros que contrastam com a sua grande barriga cheia pelos vermes e alimentação sistematicamente mal conduzida que chegam a descolorir os cabelos de alguns. Esta terra é um local esquecido, chamado Inhassunge.
A região esteve, em tempos, repleta de coqueiros. Não só o côco era totalmente aproveitado pelos locais (como alimento, venda de produtos resultantes da sua transformação e aproveitamento da folha para construção/reabilitação das casas) mas foi também o grande sector que empregava os locais na empresa MADAL. No entanto, devido à agora muito espalhada doença do amarelecimento letal do coqueiro na região, os locais têm-se visto sem o seu sustento e/ou emprego na MADAL, que despediu a grande parte dos seus trabalhadores nesta zona. A região tem uma altíssima incidência de HIV/SIDA e poucas ONGs se têm interessado em ajudar devido aos maus acessos e dificuldades em lá estabelecer sede. Dados de 2007 revelam números assustadores. A média nacional estimada de prevalência do HIV em Moçambique é de 16%. A da Província da Zambézia (onde Quelimane e Inhassunge se encontram) é de 19%, sendo a média na zona urbana da cidade de Quelimane de 32%. No entanto, em Inhasunge (que é uma zona rural e, portanto, normalmente mais baixa que na urbana), este valor sobe para 32.9%, mais do dobro da média nacional, indicando que quase 1 em cada três pessoas está infectada com HIV. A razão por detrás deste número é o facto de, historicamente, a zona de Inhasunge ter muitos retornados de emigração para África do Sul, voltando infectados e espalhando o HIV.
Foi esta zona esquecida que a ataca decidiu agora atacar.
Estivemos a seleccionar as crianças tendo, para isso, percorrido quilómetros e quilómetros a pé. Juntamente connosco foram os nossos novos parceiros neste novo desafio: a Concern e uma organização local a Associação de Naturais e Amigos de Inhassunge (ANAI). A Concern tinha já feito um mapeamento de cerca de 700 crianças vulneráveis nesta região e a ataca, com base nesta recolha de informação, escolheu as 20 mais carenciadas que encontrou.
Uma das crianças que passará agora a ser apoiada pela ataca é a Bela Loaquimane. Os seus pais faleceram há mais de um ano e, desde então, a Bela vive com a avó. Esta está com 68 anos de idade (muitíssimo em Moçambique) e é, infelizmente, totalmente cega e parcialmente surda. A criança, portanto, com 13 anos é quem faz tudo: de manhã faz as lidas da casa, vai buscar água ao poço comunitário, faz a machamba e, quando consegue, tenta arranjar qualquer coisa para ambas comerem. Para além disto tudo, à tarde, ainda vai à escola – está na 6ª classe.
As vulnerabilidades nesta zona são de vários tipos e a do Charles Rodrigues não é excepção, embora seja o caso mais extremo que alguma vez vimos relativamente à habitação. A casa onde vive, juntamente com o seu pai cego, é indescritível, feita somente com folhas de coqueiro e não mais alta que metro e meio – pronta a cair.
A sensação de encontrarmos estes casos é um misto de tristeza com alguma alegria, por sabermos que – agora que os descobrimos – a ataca os ajudará.
Contaremos mais em breve,
Até lá!
J+F
Olá nossos queridos amigos!
Ficamos de tal forma sensibilizadas com o que vocês contaram que resolvemos divulgar o blog amigo por amigo do facebook… e que trabalheira que deu! Mas valeu a pena: quem sabe sensibilizamos mais pessoas para a nossa causa 🙂
Já vos dissemos que vocês são mesmo muito especiais para nós?! Se não dissemos queremos dizê-lo publicamente! Se já dissemos, o que é provável, nunca é demais repetir 🙂
Adoramos-vos!
Um abraço daqueles mesmo bons das
Sisters
PS: Um abraço aos nossos amiguinhos e ao Evaristo!
João e Francisca:
Já falta pouco para eu estar aí com vocês em Moçambique!
Juntos faremos a diferença,
Alberto
Parabéns pelo fantástico trabalho!