Agora estou em Quelimane! Uma das nossas tarefas consiste em visitar os bairros das famílias que apoiamos e perceber como é que o dinheiro dado pelos tutores é aplicado.

Hoje, a família que visitámos era muito especial… Uma das novas crianças apoiadas pela ataca chama-se Juliana e tem 3 anos de idade. A Juliana tem dois irmãos, o Esvêncio e o Confusão. O Esvêncio veste a única roupa que dispõe, o pijama. A mamã é o único sustento destas 3 crianças, pois o marido faleceu em 2009. A mamã acorda às 4:00 da manhã para ir apanhar caramujos (ou “todué” no dialecto de chuabo), que é um petisco local semelhante ao caracol. Com a venda diária dos caramujos ela consegue obter uns escassos 20 meticais (o equivalente a 40 cêntimos de euro). É uma luta diária. Uma luta sem tréguas. Uma luta pela própria sobrevivência e a dos filhos.

Mas o que é que esta criança tem de tão especial para mim? O que é que a distingue de todas as outras? Chegou o momento de desvendar o mistério: a Juliana é a criança que eu apoio em Portugal; ou seja, deu-se a feliz circunstância de o voluntário que actua no terreno em Moçambique e o tutor que apadrinha a criança em Portugal serem uma e a mesma pessoa!
Quando lhe fizemos esta revelação, a mamã ficou contente mas um pouco envergonhada. Com os olhos no chão e algo descrente apenas disse “náááda”!

E como é que a mamã aplicou os fundos do “Projecto Tutor à Distância”? A mamã, conforme previamente acordado com os voluntários, aplicou o dinheiro numa rede mosquiteira, “mata-bicho” (4 pães diários), roupa, 3 pares de chinelos e ainda uma lata de milho.

Conversámos, rimos e tirámos umas fotos! Temos de partir, pois já se faz tarde e há outras famílias a visitar. Pego na menina ao colo e beijo-a antes de pousar os pézinhos descalços no chão.

Alberto
5 Responses to O tutor e a afilhada
  1. sempre que venho a este blogue, choro. choro de alegria pelo que vocês estão a fazer, e de tristeza por saber que não estou aí a ajudar quem precisa tanto de ajuda. ao ler este blogue, leio o meu sonho. Pode ser que um dia me junto a vocês, até lá, obrigado por serem o sorriso do mundo.*

  2. Caro Alberto, afinal a Juliana existe mesmo! A realidade rebentou mesmo diante dos teus olhos e a tua emoção é indisfarsável no teu relato. Serás mais um que não te inibirás de gritar bem alto que os Objectivos do Milénio são um dos actos mais cínicos que os países ricos inventaram para poderem descansar as suas consciências, e que o trabalho de entidades como a ataca só peca porque, desesperadamente, só consegue chegar a umas centenas de julianas. Que este teu relato possa contribuir para sensibilizar muita gente que julga que esta realidade é pontual e só serve para, de longe a longe, ocupar alguns segundos do telejornal e para nos incomodar à hora do jantar. Esta é a realidade que nos faz feliz por trabalhar na ataca e nos faz sentir que "estamos juntos".
    Parabéns e um grande abraço. Durana Pinto

  3. Depois de ler percebe-se melhor o teu sorriso de orelha a orelha de cada vez que falas de Moçambique! Bem-haja pela tua generosidade! PA.

  4. Ohhhh que benção, Alberto! [sem mais palavras…]
    Ângela:)

  5. Olá Alberto,
    De facto, és um dos poucos tutores que já conheceram quem apoiam. Certamente que este terá sido um momento especial, mas que não toldou o bom trabalho que realizaste em prol das restantes crianças e famílias do projecto. Espero que fiques com a ataca, agora em Portugal!
    Um abraço,
    Miguel Freitas


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