Um ano. Um ano feliz e cheio de experiências inesquecíveis; pelo menos é assim que o vamos lembrar. Parte-se para Moçambique com aquele romantismo de imagens e sensações, que acaba por chocar com a realidade que lá se encontra. As cores iniciais da imaginação não se perdem mas ficam menos claras, mais desfocadas, mas também mais reais. A imagem que levamos da pobreza é romantizada e, para não corrermos o risco de nos sentirmos esmagados pela realidade, é em pequenas doses que se deve curar. Os mais pobres dos mais pobres não são heróis por não terem o que comer, não são incólumes às más acções ou felizes na sua pobreza. Mas também porque haveriam de o ser? Os mais pobres dos mais pobres são como tu e eu; só que sofrem mais – incrivelmente mais – devido a um percalço geográfico. E se tivessem nascido em Portugal e nós lá?
Moçambique tem o encanto de nos sussurrar verdades quando menos esperamos e é em pequenas aldeias como em Inhassunge que sentimos que vale a pena. Vale a pena organizações como a ataca preocuparem-se com questões relacionadas com a justiça – essa palavra agora tão maltratada. Quem é que se ia lembrar do pequeno Hilário o qual, além de viver em pobreza absoluta com o pai, vive o seu dia-a-dia com muito mais do que a sua justa parte de desgraças, queimado num fogo sem culpas que culminou no seu braço derretido e agora colado ao peito, e na sua grande orelha, inchada e triste que se move inadvertidamente, como que abandonada, com o movimento da sua cabeça? A pobreza é suja, feia, triste e humilhante, não tem nada de romântico. Se alguém perguntar porque é que vale a pena preocuparmo-nos com alguém a milhares de quilómetros, responderemos que a pobreza em Moçambique é perto do inconcebível, em quantidades desproporcionadas de infelicidade e humilhação – sendo do pequeno Hilário de quem nos estaremos a lembrar.
João e Francisca
6 Responses to Um ano.
  1. Sem palavras…
    Continuamos juntos!

  2. Caro João, foi um ano intenso para vocês que deu para perceber que a pobreza romantizada e a felicidade de ser pobre não existem mas, seguramente, também não se explicam por precalços geográficos. Realmente como dizes, e bem, a pobreza é suja, feia, triste e humilhante, quer seja em Inhassunge ou noutra qualquer parte do planeta, é um flagelo que atinge 1.000 milhões de seres humanos e a cada dia morrem 20.000 por pobreza extrema e que nunca são notícia. É aqui que está o meritório papel da ataca, numa luta desesperada para tentar contrariar uma situação que, infelizmente só chega a algumas centenas de Hilários, mas que vai chegando e os vai fazendo mais felizes. Quero aproveitar este espaço para vos deixar o meu reconhecido apreço pelo magnífico trabalho que ao longo do último ano desenvolveram em prol das crianças integradas nos Projectos da ataca e da boa imagem que transmitiram da nossa ONG, saibam os que vos sucederem continuar esse trabalho.
    Durana Pinto

  3. Sem palavras… sem palavras…
    um grande abraço forte para vocês os dois!
    Ângela

  4. Francisca e João,

    Com o magnifico trabalho que realizaram durante o último ano, não só foram capazes de motivar e mobilizar todos os voluntários que trabalham na ataca em Portugal, como também conseguiram ser um motor de melhoria e desenvolvimento dos Projectos que temos no terreno, criando excelentes condições para quem partiu recentemente em missão.

    Agradecer-vos o vosso trabalho é demasiado exíguo face a todos os desafios, dificuldades e lutas que travaram em Moçambique para bem das crianças que apoiamos, pelo que acredito sinceramente que o verdadeiro reconhecimento do vosso trabalho é aquele que não se vê e não se ouve, mas que permanecerá para sempre dentro de vocês e na memória de quem recebeu o vosso apoio.

    Como voluntário da ataca espero que possamos continuar a contar com o vosso apoio, talento e qualidade em prol deste Projecto, seja em Portugal, em Moçambique, ou noutro qualquer local onde estejam.

    Estamos juntos,

    Tiago Durana Pinto

  5. João e Francisca é por isto que a ataca continua a contar convosco. O trabalho apenas começou, há muito para fazer.

    Obrigado, e fiquem connosco.

    Abraço,
    Miguel Freitas

  6. Quanta vida cabe num ano assim…? Foi muito bom e um privilégio receber-vos aqui:)… e poder testemunhar a passagem de testemunho às novas voluntárias. Trilharão os mesmos caminhos, em nome da mesma missão, com a mesma vontade de atacar a pobreza! Terão o seu próprio percurso, mas espero encontrá-las como a vocês: de coração cheio!
    Fiquem por perto, que há muito para aprender convosco:)

    Abraço grande!
    Adriana


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