A vista na marginal dos Bons Sinais é sem dúvida magnífica, principalmente ao nascer e pôr-do-sol. Do lado de cá vêem-se as tonalidades de verde sobre as águas e adivinha-se a beleza do outro lado do rio. Quinze minutos depois, e 10 meticais de viagem, chegamos ao nosso destino – Inhassunge.

Logo percebemos que a distância, por pequena que pareça, é incompreensivelmente grande. Diríamos que é um fosso abismal que separa estas duas localidades que se observam ao longe diariamente.
Em conversa com pessoas locais, com os nossos parceiros, com os nossos companheiros de viagem, tentámos compreender esta distância e o que está na sua origem (para além daquilo que já nos haviam contado em Portugal). Tudo começa com os coqueiros. Há bem pouco tempo palmeirais povoavam toda a área de Inhassunge e proviam sustento para esta população. Directa ou indirectamente, trabalhando para a Madal, quase todos viviam do côco. Mas os coqueiros começaram a adoecer e não se tendo encontrado solução para este acontecimento optou-se por queimar e cortar as palmeiras, tentando que a doença não se propagasse. Muitas foram e são as organizações que estudam este fenómeno e que procuram soluções para o resolver. Já se tentaram plantar outros tipos de palmeiras, mas parece que adoecem também. Já se procurou cultivar todo o tipo de alimentos, mas o solo arenoso e pouco fértil não é o ideal para as culturas. Neste momento Inhanssunge vive essencialmente do arroz, que é seu sustento.
Os arrozais sem fim e as mamãs a quelimar, é uma visão incrível!
No dia em que chegámos pela primeira vez tinha parado a chuva e todos saíram de casa para plantar.
Neste momento algumas organizações, como a Concern, estão a apostar no cultivo do Gingerling, para que as populações tenham formas alternativas de sustento.
Outra grande questão que trava o desenvolvimento desta localidade é a falta de estradas. Ou antes, de estrada. Há apenas uma estrada em construção, em terra batida, cheia de buracos, o que dificulta a chegada de produtos e a saída e entrada de pessoas. Como sabem a província da Zambézia está a ser muito afectada pelas chuvas, o que torna o caminho para o Carungo quase intransitável.

Por tal, apenas carros com tracção às 4 rodas conseguem circular e é muito comum as viaturas avariarem. Sendo assim há muito poucos transportes o que origina situações deste género:

Um chapa em Inhassunge!

Contactando com a população percebemos que muitas das famílias mais pobres, e com as quais trabalhamos, viram as suas casas destruídas pela chuva.
Percebemos assim, no terreno, a diferença que faz o apoio da ataca nesta região. Com o donativo as famílias planeiam reconstruir as suas casas e, com o apoio dos nossos parceiros em Inhassunge e do aconselhamento prestado, irão investir em casas melhoradas, para que nas próximas intempéries não vejam as suas casas vir abaixo de novo.
Percebemos também que todas as crianças apoiadas pelo projecto se encontram a estudar, o que é uma vitória numa região em que a escola não é ainda valorizada pois a machamba e o apoio aos familiares são tidos como prioridades.
Assistimos a uma verdadeira solidariedade entre vizinhos, algo que não nos deixa de espantar por terras moçambicanas, em que todos se encarregam de apoiar o seu próximo, seja dando-lhe guarida ou partilhando comida.
As mamãs na sua maioria não falam português, mas a comunicação vai-se fazendo com ajuda dos nossos colaboradores. Apercebemo-nos a determinado momento que algumas das mamãs novas no projecto não sabem ainda utilizar a certeza (produto para desinfectar a água) e temos um momento improvisado de formação. Rapidamente o Sr. Monteiro arranja um frasco de certeza, e o Sr. Popote explica às mamãs e papás em Chuabo como podem utilizar a mesma!

Do outro lado do rio, em frente à capital da Província da Zambézia, há crianças que nunca fizeram um avião de papel, há crianças cujos bancos de escola são troncos de árvore, há crianças que não têm lápis de cor, há crianças que cuidam dos pais e avós. A distância entre Quelimane e Inhassunge é enorme, sim, mas a distância entre Inhassunge e Portugal é incalculável…
A distância é longa mas não intransponível e estamos juntos para que este sítio não seja esquecido…
4 Responses to Inhassunge – do outro lado do rio
  1. Olá nossas muito queridas voluntárias!

    Apesar do "silêncio", não deixamos de espreitar o vosso blog que lemos sempre com muito carinho.
    O projeto de Inhassunge é aquele que aperta mais o coração, pois sabemos a realidade das crianças do nosso projeto…
    Acreditamos que todos juntos – ataca e outras ONGD's – consigamos fazer muito por essa terra tão carente e com gentes tão especiais. O investimento deve passar mesmo pela cooperação entre todos – a união faz a força – e muita coisa se poderá fazer se se conseguirem agregar esforços de organizações com know how em diferentes quadrantes: ambiente, agrícola, educação, construção, …
    Força aí amigas. Temos muiiiito orgulho em vocês, pois sabemos o quanto vocês estimulam os locais a "crescer" em conhecimentos e em autonomia!
    Um abraço daqueles mesmo, mesmo bons para as duas, para o Evaristo e o Melo, para cada uma das crianças da CE (e para as que já saíram da CE) e para a Irmã Idalina das Sisters

  2. Olá amigos voluntários e voluntarias. Aproveito mais uma vez para testemunhar o seguinte: Quem viu o inhassunge do antigamente nem pode acreditar no que se fala hoje. Já naquele tempo do Sr. Nhabudo (nome ou designação dado ao último administrador Portugues), essa área tinha florescido com plantações quase em toda parte e com reservas alimentares em abundancia. Era uma zona colorida pois a sua população obtinha de tudo um pouco; roupas e bijuntarias que os comerciantes portugueses e não só, vendiam nas lojas de Mucupi, Gonhane, Caocha, enfim. Quem me dera poder fazer algo…Aí que tristeza, o que posso fazer?

  3. Olá
    Fiquei realmente comovido com a situação narrada e tenho certeza que a vossa organização ira ajudar esse povo de Inhassunge. È de lamentar a situação da estrada, porque pelo menos poderia facilitar a evacuação de alguma ajuda se existir. Mas paciencia. Gostaria de trocar emails com os responsáveis dessa organização, quiçá talvés um dia poder canalizar alguma ajudazinha. Abraços de Treme Treme

  4. OLÁ
    Tenho estado a ler sempre que posso acerca de inhassunge. É de arrepiar sobre as noticias que nos chegam. Será que não se pode fazer nada? O que se poderia fazer em Inhassunge com USD100.000 para ajudar todo povo num projecto? Talvés um empréstimo bem delineado a cada família? Espero voltar a ler sobre este comentário.


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