Durante 4 anos da minha vida trabalhei em educação e formação de adultos em Portugal e, por tal, considero ser particularmente sensível às questões do ensino-aprendizagem.
Esta não será a única razão. A bem da verdade sempre adorei aprender, sempre me senti muito grata por ter acesso a educação e pelas pessoas que me incentivaram a fazê-lo.
Muitas coisas me revoltaram e frustraram nesses anos, perceber que o analfabetismo ainda existe no nosso país e, mais ainda, perceber que existe uma coisa chamada analfabetismo funcional. Passando a explicar: existem muitas pessoas, que não aparecem nas estatísticas, que estudaram até à 4ª classe (ou 4ºano), e que unicamente sabem assinar o seu nome ou escrever e ler o minimo. Também aqui me apercebi que o dinheiro é, e continuará a ser, um obstáculo a que muitos não consigam aprender, seja porque não podem pagar as propinas, explicações, fotocópias, seja porque o seu meio social não incentiva ao estudo, seja porque para estudar é necessário tempo e disponibilidade que muitos não têm pois trabalham em condições precárias.
Ou seja, em Portugal como em Moçambique podemos dizer que o ensino é para todos, mas só no papel…
Quando falamos de alunos economicamente desfavorecidos, como os meninos que apoiamos, diversas questões dificultam a frequência da escola e o sucesso escolar, como não terem acesso a livros escolares, acesso a computadores para elaborar os trabalhos solicitados na escola, não terem dinheiro para os uniformes obrigatórios, não terem apoio nos estudos, etc.
A iliteracia é uma questão que já vem de longe. Pelo que pudemos ler sobre isso, na altura da colonização o ensino de qualidade era só para alguns, a maioria do povo moçambicano apenas aprendia a ler e a escrever, e era doutrinado. Quando foi declarada a independência uma das medidas do Samora Machel foi tornar o ensino gratuito e para todos. O problema é que não havia professores, e ele institui e apelou a que todos que soubessem ler e escrever ensinassem o seu próximo. O que veio piorar as questões do ensino foi a guerra civil, que durou 16 anos, e matou muitos professores, muitas escolas foram destruídas, houve muita imigração para as grandes cidades e portanto os problemas com a educação continuaram. Hoje, nas cidades principalmente, já se assiste a uma grande valorização da escola e da educação mas os problemas que falei acima não ajudam.
No entanto, o que realmente nos chocou por cá não foi nada disto, mas sim a corrupção que se pode observar nesta área. Muito se discute acerca das transitações de ano “administrativas”, isto é, quem paga passa de ano, quem não paga muitas vezes não passa mesmo que tenha tido aprovação ao longo do ano. É algo que afecta muito os jovens, pois sentem que o seu esforço não será reconhecido. Existem livros de distribuição gratuíta que nunca chegam aos alunos necessitados, pois são desviados.
Aqui podemos compreender a importância que tem ter um livro. Imaginem o que é estudar biologia, matemática ou química apenas com os apontamentos das aulas?! Ou estudar inglês, francês ou português sem dicionário nem gramática. Por isso afirmamos: Quem tem livro é Rei J
Propusemo-nos, durante a nossa missão, a angariar livros de estudos para os jovens mais velhos da Casa Esperança e, como por milagre, batemos à porta de um instituto politécnico (IMEP). Estávamos apenas a pedir informações mas a Directora Pedagócica ao aperceber-se da nossa situação ofereceu-nos um montão de livros como doação à Casa Esperança. Não nos deixa de surpreender a generosidade que por aqui se encontra!
A felicidade dos nossos jovens ao ver estes livros foi algo único de observar, por isso partilhamos esta história convosco.
Estamos Juntos!
Marta Dias
Os problemas relativos à falta de qualidade na Educação deve ser um dos desafios que tempos pela frente! O desenvolvimento de um povo, bem como a sua liberdade, dependem dela!
Parabéns pelo vosso trabalho!
Estamos juntas!
Beijinhos,
Adriana