Em Outubro último, passámos a ser 7 mil milhões. A população está mais nova e mais velha do que nunca. Nos países mais pobres, as elevadas taxas de natalidade, sem condições de vida adequadas ou de acesso à saúde, perpetuam a pobreza, enquanto que no Velho Continente e em alguns dos mais ricos, as baixas taxas de natalidade e escassa entrada de pessoas novas no mercado de trabalho ameaça a economia e o sistema de segurança social. A esperança média de vida global ultrapassou a barreira dos 70 anos e as previsões apontam que em 2050 seremos mais de 9 mil milhões. Ao passo que se prevê a estagnação da população nos países desenvolvidos (ou mesmo um decréscimo em países ditos desenvolvidos como Portugal, para 8.5 milhões em 2050), o antecipado crescimento terá um motor, uma cara, uma cor, um continente: África.
No entanto não podemos perpetuar o erro de encarar África como um todo. As disparidades são inúmeras. Enquanto Botswana é o 13º país mundial no que toca a desenvolvimento económico e sustentado, com paz e democracia desde a sua independência, a República Democrática do Congo, com frequentes conflitos e milhões de mortes desde o reinício da Guerra em 1998, assume-se atualmente como o país mais pobre do mundo. Em termos de esperança média de vida, nascer em Cabo Verde representa uma probabilidade média de viver 22 anos mais do que na Suazilândia, sendo ambos países africanos e classicamente conotados como países pobres ou em vias de desenvolvimento.
Atentemos no caso específico de Moçambique. O crescimento tem sido exponencial, dos 6.5 milhões em 1950, passaram a 12.1 em 1980, 16.7 em 1997, 20.6 em 2007 e 25.2 milhões de habitantes em 2012, suportado principalmente pelas elevadas taxas de fecundidade, acima dos 6, o triplo da média mundial. Este aumento, associado ao facto da maioria das áreas urbanas de Moçambique sofrerem aumentos populacionais sem que estes sejam acompanhados de criação de infraestruturas básicas (por exemplo, de abastecimento de água, transportes, eletricidade, educação, saúde, habitação), tem resultado na existência de áreas informais super povoadas e sem condições adequadas de saneamento e/ou habitabilidade. Assim, a percentagem de população urbana manteve-se praticamente inalterada nos últimos anos (29% em 1997 e 30% em 2007).
Apesar das potencialidades em recursos naturais e do crescimento económico assinalável (PIB em crescimento anual acima dos 6% nos 5 últimos anos), estas melhorias ainda não se verificam nas condições de vida da maioria dos moçambicanos e o país continua um dos mais pobres do mundo.
Segundo o relatório elaborado pelo INE moçambicano em parceria com o MISAU no seguimento do 3º Inquérito Demográfico e de Saúde realizado em 2011 os dados são bem claros e sublinham o previamente afirmado: metade da população moçambicana tem menos de 15 anos, pouco mais da metade dos agregados familiares bebem água de fontes canalizada ou de poços tratados (com disparidade elevada entre áreas urbanas e rurais, com 84% e 37%, respetivamente) e apenas metade de agregados familiares nas áreas urbanas tem energia elétrica comparado com apenas 5% das áreas rurais.
Na saúde o panorama global é pobre. A incidência anual de malária está nos 29%, a taxa global de HIV nos 6% (atingindo os 19% na Zambézia). Segundo a OMS, a taxa de 0.4 médicos por 10.000 habitantes, é o valor mais baixo de toda a África Subsariana. Ainda assim, entre o período de 1996-2001 e 2006-2011 a mortalidade infantil, classicamente considerado como um dos mais fiáveis indicadores de desenvolvimento dum país, diminuiu de 106‰ para 64‰.
A alimentação é inadequada, o que se reflete nuns assustadores 43% de crianças menores de 5 anos que sofrem de subnutrição crónica moderada e 20% que sofrem de subnutrição crónica grave. Ironicamente, à data que escrevo este post, decorre a 76ª Assembleia Mundial de Saúde em Geneva cujo tema principal são os galopantes números de obesidade infantil nos países desenvolvidos e que superam a barreira dos 30% em Portugal.
A educação continua a não ser um direito universal, e são alarmantes os dados que apontam para uma subida de 516 mil para 696 mil crianças em idade escolar, não matriculadas na escola e sem acesso a educação básica. Um terço da população feminina e um quinto da população masculina com mais de cinco anos nunca frequentou uma escola.
O vestuário necessário à frequência escolar, ou seja, um uniforme com custo médio de 400 MZN, (aproximadamente 10 euros) é frequentemente um dos obstáculos à frequência escolar.
No entanto há notícias animadoras, segundo dados do Worldbank, a percentagem de pessoas a viver abaixo do limiar da pobreza diminuiu de 69.4 para 54.7 % em apenas 13 anos (1996-2009).
A ataca concentra os seus esforços no ataque à pobreza das crianças africanas na província da Zambézia, a mais pobre de Moçambique e uma das mais pobres de toda a África Subsariana e do mundo. Com o apoio dos tutores portugueses e com a presença de voluntários no terreno durante 365 dias por ano, é possível apoiar o desenvolvimento e estimular a vida destas crianças. Sem crença religiosa ou ideologia política, a nossa organização rege-se pelos direitos universais da criança e centra-se nos 4 pilares acima sublinhados, essenciais ao crescimento e desenvolvimento das crianças.
Fiquem atentos às novidades, às descrições que faremos sobre os nossos projetos, as crianças que apoiamos, o estilo de vida moçambicano e as dificuldades diárias de um povo irmão.
Termino com o apelo da ONU, a propósito da entrada no campo dos 7 mil milhões: “Não perguntem se somos demais. Perguntem o que podemos fazer para tornar o Mundo um lugar melhor para viver.” e com o convite para assistirem a um curto vídeo que vos ajudará a desmistificar ideias pré-concebidas e a compreender as alterações demográficas decorrentes da ajuda das crianças desfavorecidas.
Além de informativos, estes números são avassaladoramente assustadores. Fico muito feliz por saber que temos voluntários como vocês que contrariam estes valores. Estamos juntos!