Os voluntários da ataca no terreno, dado o seu contacto com a realidade, com as crianças e com as famílias, desempenham um papel preponderante na gestão dos projetos, no acompanhamento das crianças e jovens, na criação de programas de formação e sensibilização junto da comunidade e na articulação da informação entre crianças e tutores.

Existe em Moçambique uma grande falta de profissionais qualificados pelo que, necessariamente muitas organizações internacionais acabam por recrutar recursos humanos qualificados de outras nacionalidades.
No entanto, não nos devemos esquecer da importância do potencial local e das suas vantagens, nomeadamente, os fatores linguístico e cultural, elementos facilitadores de integração e aceitação na comunidade.
A atacaencara a cooperação em Moçambique como uma opção estratégica de parceria e um instrumento capaz de produzir um impacto positivo na população, elevando o nível de vida, promovendo o crescimento sustentável e contribuindo para o desenvolvimento social local. Desta forma, é primordial a transferência de conhecimentos técnicos e competências de forma a promover a autonomia das nossas famílias.
Por outro lado, cabe-nos a tarefa de representar a ataca junto das entidades oficiais locais, dos parceiros e de toda a comunidade. Atualmente, os nossos esforços concentram-se em otimizar as parcerias existentes e estabelecer novas, no sentido de capacitar e potencializar os recursos humanos in loco.
Assim, a nossa intervenção visa promover progressivamente a autonomia dos nossos colaboradores locais – o Eva e o Melotornando-os um exemplo a seguir pelas nossas famílias. O nosso papel passa para segundo plano, incentivando a autonomia da comunidade.

Os nossos colaboradores atacantes

Neste último mês preparamos uma formação para as famílias de Quelimane, com o objetivo de “refrescar” conceitos e ideias relativamente ao Projecto Tutor à Distância e ao seu funcionamento. Quisemos dar a conhecer às famílias os outros projetos/crianças que apoiamos, nomeadamente em Inhassunge, em Milevane e na Casa Esperança. Esta formação foi preparada e ministrada pelos nossos colaboradores. É neste sentido que caminhamos e a cada dia que passa o nosso papel deverá tornar-se cada vez mais secundário.

Sem os nossos colaboradores moçambicanos este projeto não seria possível, porque eles pertencem ao povo chuabo, dominam o dialeto, conhecem a cultura e o terreno, sendo estas mais-valias fundamentais na integração e aceitação pela comunidade.
O Evaristo (Eva) tem 30 anos, está na 11ª classe na Escola Secundária Geral 25 de Setembro. Vive no Bairro Manhaua com a sua esposa Nenucha e as suas duas filhas, Eva e Carolina.
O Eva entrou na Casa Esperança, com 14 anos, onde permaneceu até 2006. Depois de sair da CE continuou a estudar e para fazer face às despesas iniciou um pequeno negócio de aluguer de táxi-bicicletas (meio de sustento frequente do povo chuabo).
Ainda em 2006, as suas competências e capacidades foram reconhecidas, e foi convidado a integrar a equipa da ataca, tornando-se o nosso primeiro colaborador local. Inicialmente, foi-lhe atribuído um papel de “estagiário”, sendo supervisionado pelos voluntários. Ao longo do tempo foi-se tornando mais independente e autónomo e hoje é o elemento fundamental da equipa da ataca, porque conhece os Bairros de Quelimane, as famílias e as crianças como nenhum de nós conseguirá alguma vez conhecer. No sentido de promover ainda mais a sua autonomia, desde 2013 que o Eva é responsável pelo acompanhamento de algumas das famílias do nosso projeto de Quelimane, cabendo-lhe todas as tarefas de intervenção.

Eva

O Melotem 19 anos, frequenta a 11ª classe da vertente de Letras na Escola 25 de Setembro, em Quelimane. Vive no Bairro Torrone Velho com o irmão Rodrigues e a irmã Lina. O irmão mais novo, o Félix, com 18 anos, é interno da Casa Esperança. O Melo esteve também nesta Instituição entre 2002 e 2011. Em 2011 foi selecionado pela atacae convidado para ser nosso colaborador em part-time, com o objetivo de otimizar as suas capacidades e promover a sua integração no mercado de trabalho.
O Melo todos os dias conta o seu segredo para a vida, como ele nos diz, “qual é o segredo? ALEGRIAAA!!”.
Atualmente o nosso interesse passa por capacitar e autonomizar o Melo. Neste sentido temos vindo a atribuir-lhe funções de maior responsabilidade no que diz respeito às nossas crianças externas de Quelimane. A curto prazo, o objetivo é que ele seja responsável por algumas famílias do projeto. Neste momento, o Melo está a frequentar um curso de informática na Sagrada Família para aumentar as suas competências e possibilitar a sua maior autonomia.

Melo, como ele mesmo diz “Sempre conectado com fio de bronze”
A longo prazo, a meta da atacaé atribuir o papel central aos colaboradores moçambicanos, tornando os voluntários meros facilitadores e mediadores entre as equipas do Projeto Tutor às distancia (PTàD) de Portugal e os projetos em Quelimane.
Equipa ataca – Estamos Juntos!

Testemunhos dos colaboradores:
Eva: «Trabalho na ataca há 7 anos. No princípio olhava este trabalho como um pequeno biscate, porque ainda não tinha tido melhor trabalho para além do de ser apenas um dono de bicicletas para táxi. Claro que no principio não tinha ideia do que viria a ser o meu trabalho futuro nesta Associação e muito menos o quanto seria fundamental para minha vida. Tive muitos benefícios, conheci e vou conhecendo pessoas com quem aprendo muitas coisas o que me deixa orgulhoso de até hoje continuar a fazer parte desta Associação. Somos como uma família que trabalha para uma “machamba” estatal e eu faço parte dela. É gratificante servir de intermediário e poder estar entre os dois lados (voluntários e famílias dos bairros). Colaborar com a ataca comparativamente com um outro trabalho que poderia ter, considero sem dúvida incomparável, pois não tenho só o trabalho mas as pessoas que vou conhecendo e com quem vou trocando experiências. A minha colaboração na ataca é benéfica para as famílias, porque conheço a língua com a qual posso comunicar e também sou muito aberto e claro para com elas. O certo é que se as famílias dizem que sou importante neste projeto, fico feliz, eu apenas as trato como se elas fossem a minha família. E se isto acontece, deve-se a lugares onde passei, em especial a Casa Esperança, deve-se a pessoas que lá conheci, onde os ensinamentos foram bons. A cada dia que passa ganho ainda confiança em mim mesmo e nas minhas capacidades, porque começo a receber mais responsabilidades no trabalho, como por exemplo de ter famílias no meu comando e desenvolvendo alguns trabalhos no computador que me faz sentir pouco a pouco mais independente, mesmo quando ainda tenho muito para aprender».
Melo «Considero a ataca a porta que me faz enxergar um futuro melhor. Gosto de colaborar com a ataca e por isso dou o meu melhor todos os dias. Com a ataca tenho vindo a conhecer pessoas especiais que para além do trabalho são amigas e estão sempre dispostas a apoiar-me. É com muito amor e carinho que eu valorizo o trabalho que desenvolvo na ataca, porque eu faço-o com muita vontade. O projeto da ataca é muito importante porque permite ajudar muitas famílias de Quelimane a poderem ter uma vida melhor. A ataca é para mim como uma escola em que a cada missão eu aprendo sempre mais. Porque do limão eu sou capaz de fazer uma limonada».
Érica Rei
Voluntária Missão CIGLO
2 Responses to Os colaboradores locais da ataca – Eva e Melo
  1. É um orgulho ter dois colaboradores moçambicanos na família ataca, dedicados e responsáveis, tanto na representação da ataca perante as nossas famílias, assim como na sensibilidade e competência em perceber o que as nossas famílias precisam para construírem a sua autonomia.
    Com o vosso empenho no dia a dia, vocês são os guerreiros que fazem parte da história de muitas famílias moçambicanas que vós tão bem conhecem.
    Zikomo

  2. Que orgulho pertencer à família ataca! Que felizes ficamos por sentir como o Eva e o Melo agarraram tão bem o desafio que lhes foi proposto – eles são o máximo :)! Que bom seria se todas as organizações promovessem – tal como a ataca – o desenvolvimento das competências das pessoas locais, de modo a terem "armas" para trilhar o seu próprio caminho… Um grande xi para os nossos queridos Eva e Melo, para os nossos queridos voluntários que tão bem representam a ataca no terreno e para os nossos meninos da CE de quem temos tantas saudades, tias Tita e Mena (Sisters)


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