“Diante da vida fiz amizades belas e inesquecíveis. Lembro-me dos tempos de miúdo, de matricularem-me na escola da cidade, a Escola primária Completa 3 de Fevereiro, com 6 anos de idade. No primeiro dia de aulas fui acompanhado pelo meu avô, que Deus o tenha, diferente de vários outros que iam acompanhados pelos pais. Não queria ir, preferia ficar a brincar, pois a maioria dos meus amigos não tinham sido ainda matriculados.
No caminho da escola ia encontrando outros meninos da minha idade, de pasta às costas, e lá ia eu calado. Levava apenas dois cadernos e um lápis na mão e uma borracha no bolso da esquerda. Não tinha ainda uma pasta em comparação com muitos dos meus colegas de classe.
Nesse mesmo dia de aulas fiquei um pouco distraído enquanto o meu avô conversava com a professora e depois, tam tam tam… Ouve-se três batidas seguidas, de um ferro que se encontrava amarrado no cimo de um pau, que por sinal era o toque de entrada. Foi embora o meu avô deixando-me na companhia da professora que tinha cara de simpática.
Mal entrei na sala de aula, admirado olhava para todos os lados. Via algumas carteiras já ocupadas por outros colegas. Era tímido e não olhava fixamente para os companheiros por vergonha, acabando por ocupar uma carteira ao fundo a pedido da professora. Foi então tempo da apresentação da professora aos alunos e vice-versa, até ao final das aulas onde a professora entoou uma canção que tínhamos que cantar sempre no fim das aulas, uma música curta e fácil de decorar por meninos da nossa idade.
Com o passar do tempo lá se foi aquela timidez, apenas olhava e não dizia nada, aproximava-me pouco a pouco dos colegas de classe tentando fazer amizades. Por vezes, eram os outros colegas que se aproximavam de mim para brincar.
Nos recreios haviam pais que vinham à porta da sala dar o lanche aos seus filhos.
Hoje passados muitos anos encontro-me a terminar um curso profissional de electricidade, mas este não era o meu sonho. Eu pretendo começar jornalismo. Sei que tenho de estudar muito. Entretanto vou ocupando o meu tempo livre na rádio onde faço um programa aonde comento diversas informações e passo músicas abordando factos fundamentais para manter a juventude moçambicana com os olhos focados na nossa realidade.
Não sei o que será do amanhã, apenas sei que tudo começou há tempos atrás levado pela mão do meu querido avô… Termino desejando a todos os meninos portugueses um bom início ou um bom regresso às aulas”.
Antenor Frederico (Juma), Casa Esperança.
Nosso muito querido Juma! Que bom verificar que continuas a manter vivo o teu sonho – a rádio é uma forma de jornalismo… é o primeiro passo para vires a ser um jornalista conceituado :)! Se bem te conhecemos, continuas a ler muito (sempre reconheceste como os livros são grandes amigos, grandes professores, grandes companheiros…)! Guardamos com muito carinho a reportagem que fizeste com cerca de 11 anos sobre a machamba da Casa Esperança… desde que te conhecemos que mantemos a secreta esperança de que um dia virás a ser escritor ou jornalista … corre-te no sangue a "alma" de jornalista… por isso, tens o mais importante… agora só falta "afinar" alguns pormenores com estudo e dedicação 🙂 Força aí… continua a manter a chama viva e luta a sério pelos teus sonhos. Um abraço do tamanho do mundo das tias Tita e Mena
Meu querido Juma,
É com imensa alegria que leio esta publicação, sabendo que estás bem e a realizar os teus sonhos.
Que saudades de te ver a ler até no escuro e de te ouvir contar histórias… continua a ler e a estudar muito, mesmo que às vezes seja difícil, pois tens a inteligência e o talento para chegar muito longe, acredita sempre em ti! Sei que um dia ainda vou ouvir falar de ti como um grande jornalista ou escritor. Até lá continuarei sempre a rezar por ti, estarás sempre no meu coração meu querido amigo.
Abraço enorme da tia Helga