Uma viagem a Inhassunge é sempre uma surpresa. A hora de partida do barco depende da sua lotação e, por mais que tentemos cumprir um horário, é sempre imprevisível a hora a que chegamos à outra margem do rio Bons Sinais.
Entramos no primeiro barco que dá sinais de partida… Pessoalmente, procuro sempre por um lugar na extremidade. Os barcos vão cheios mas há sempre lugar para mais alguém ou para algo que se consiga encaixar nos pequenos e inesperados espaços que vão sendo preenchidos. Na última viagem só conseguimos batelão no regresso pois este barco esteve avariado desde 2015 e só recentemente voltou a fazer a travessia. Este permite levar mais pessoas, carros e uma panóplia de outras coisas.
Mas voltemos à nossa viagem, levei alguns meninos da Casa Esperança que nunca tinham atravessado o rio, ou melhor, nunca tinham experienciado uma viagem de barco. Íamos todos animados, expectantes e muito apertadinhos!
Inhassunge é um distrito da Zambézia relativamente próximo de Quelimane. Para chegar, basta apanhar o barco. Não sei se pelas condições em que os barcos se encontram ou pelo pouco poder de compra que existe, não é frequente os locais irem a Inhassunge.
O distrito é mais isolado e os locais não têm acesso a bens e serviços como em Quelimane. Se em Quelimane nos surpreendemos com as condições de vida da maioria das crianças, a diferença em Inhassunge é gritante. Apenas uma minoria (residente no centro de Mucupia) tem acesso a luz ou água potável. A maioria das escolas funciona a céu aberto e as famílias sobrevivem com o que a terra lhes dá. As casas distam umas das outras e apesar de um “turista” poder contemplar a beleza do local, percebemos de imediato as dificuldades de quem lá vive.
Não sei se só queria que os miúdos andassem de barco e pudessem fazer um dia de passeio, ou ainda que percebessem como vivem muitas pessoas em Moçambique. Ninguém fica indiferente em Inhassunge.
O barco chegou, sem avarias ou acidentes e apanhámos o nosso próximo transporte, o carro da Concern. O trajecto até ao centro da vila, Mucupua, é muito bonito. São cerca de 10 kilometros de terra batida (ou melhor, areia) e muitos buracos pelo meio… mas apesar dos constantes saltos no decorrer da viagem, podemos contemplar uma paisagem ainda virgem, muito verde e com pequenas habitações que parecem fazer parte de toda aquela paisagem. Com sorte conseguiríamos ver macacos. Ainda só os tinha conseguido ver 1 vez em todas as minhas deslocações ao terreno e infelizmente, desta vez os miúdos não tiveram direito a cumprimento destes primatas.
Chegados ao centro de Mucupia, foi altura de separação. Esperava-me uma reunião importante e os jovens foram dar um passeio pela vila.
Estávamos na rua onde existem os poucos serviços do distrito, um conjunto de casas de cimento dispostas numa espécie de avenida. Só lhes restou partirem numa aventura e “mergulharem” para fora da avenida, no verdadeiro Inhassunge.
Terminada a reunião, após algumas horas de espera do seu início, regressamos a casa. Todos de sorriso no rosto, pelo passeio, pela experiência, por passarmos mais um dia juntos….
*Fotografias tiradas pelos nossos jovens, para que possam ter um “cheirinho” desta pequena aventura.
Marta Monteiro Voluntária ATACA Moçambique