Moçambique – a pérola do Indico, com tanto potencial mas com tantos calcanhares de Aquiles, estando um dos mais graves e prejudiciais na educação. E assim um país que é ainda menino não conseguirá dar o salto!
Dois grandes marcos na história de Moçambique: a Independência em 1975 e os 16 anos de Guerra Civil que se seguiram, contribuíram em grande parte para esta situação. A descolonização obrigou inúmeros estrangeiros (essencialmente missionários que leccionavam nas localidades) a saírem do país ou a viverem isolados em pequenas comunidades, por sua vez, os confrontos provocaram a morte de muitos jovens, resultando num país com défice de professores/pessoas qualificadas vendo-se obrigados a formar profissionais da noite para o dia.
Isto resultou em graves problemáticas neste sector: desordem e falta de rigor nas escolas, programas inadequados, falta de professores qualificados, corrupção e além disso, para piorar esta situação, turmas demasiado grandes.
Quando chegamos a Quelimane e tivemos o nosso primeiro contacto com as crianças não foi fácil testemunhar o modo como estas perspectivavam o futuro, não sendo capazes de responder à corriqueira pergunta ‘O que queres ser quando fores grande? ‘.
Tentamos ler-lhes nos olhos o porquê de não acreditarem num amanhã feliz percebemos então que o bicho papão nesta ‘história’ é o sistema educativo.
Esta cidade, capital da Zambézia, é o exemplo real do que se passa na educação, onde a ida à escola passou a ser uma mera rotina diária e não uma forma de alcançar um futuro melhor. A verdade é que a própria escola também não faz nada para essa mudança não motivando nem orientando os alunos. Os jovens quando chegam ao final do secundário não sabem que rumo hão-de tomar, não só pela falta de informação como por total desconhecimento das suas potencialidades. Deparámo-nos com exemplos surreais de jovens que no secundário estudaram mecânica e na hora de escolher um curso superior ingressam na área da saúde.
E quando pensávamos que já não existia cura para este mal, eis que 4 horas de machimbombo nos transportam para uma outra realidade e no coração verdejante do Alto Molocué encontramos uma pequena e simples vila onde o laranja o verde e o azul se misturam harmoniosamente – Milevane.
Aqui situa-se um complexo educacional Escola Família Agrícola de Milevane EFAM construído de raiz e gerido pela Congregação das Irmãs Amor de Deus. Esta escola tem como objetivo preparar estes alunos para trabalharem no setor agrícola.
Conta com 260 alunos (dos quais 220 são internos), além do ensino secundário normal tem ainda uma componente técnica e prática com unidades curriculares direccionadas na aplicação da agro-pecuária, tais como: agricultura, criação de gado, regadio e empreendedorismo. Comporta cerca de 100 hectares de terra com machambas e estábulos onde podem aplicar na prática o conhecimento teórico.
É notório nos alunos desta escola um maior desenvolvimento cognitivo, mais auto-confiança e uma visão mais clara e direccionada do que pretendem para o seu futuro.
Grande parte deste resultado deve-se a todo o trabalho, entrega, dedicação e amor que as Irmãs do Amor de Deus depositam neste projeto e crianças.
E a pergunta que em Quelimane só tinha como resposta um encolher de ombros e um olhar vazio, aqui em Milevane encontrou voz. E assim, quando existe rigor, objetivos, organização, persistência e força de vontade os projetos germinam, criam raízes e dão fruto – o Sonho!
É gratificante saber que damos um singelo contributo para o desenvolvimento neste projeto.
E o nosso maior e mais sincero obrigada ás Irmãs que nos receberam e trataram com todo o carinho e cuidado.
Ana Machado & Márcia Oliveira